Enquanto a inflação devora o poder de compra dos argentinos e os protestos tomam as ruas de Buenos Aires, Javier Milei decidiu fazer algo que, convenhamos, ninguém esperava. O presidente — sim, aquele mesmo dos gestos explosivos e discursos inflamados — resolveu lançar um livro e, pasmem, subir ao palco como vocalista de rock.
Parece piada, mas não é. Na verdade, é difícil saber o que causa mais espanto: a crise econômica que não dá trégua ou o timing surreal escolhido pelo mandatário. Enquanto o país praticamente pega fogo, ele está lá, distribuindo autógrafos e cantando clássicos do rock como se não houvesse amanhã.
Um show que ecoa além dos palcos
O evento aconteceu no Luna Park — tradicional casa de espetáculos portenha — e reuniu uma plateia que, digamos, não estava exatamente discutindo PIB ou taxa de câmbio. Milei, com sua guitarra e estilo característico, performou músicas que vão desde os Rolling Stones até bandas argentinas consagradas. E fez com uma energia que, cá entre nós, deixaria muitos roqueiros profissionais no chinelo.
Mas o que realmente chama atenção é o contexto. A Argentina enfrenta uma inflação anual que beira os 300%, o desemprego cresce assustadoramente e as reservas internacionais estão no limite. E o presidente, em vez de estar resolvendo essas questões — ou pelo menos parecendo estar — optou por uma noite de rock and roll.
O livro: mais do que palavras no papel
A publicação lançada por Milei não é exatamente uma leitura leve para o final de semana. Intitulada "El Camino del Libertario", a obra mergulha fundo em suas ideias econômicas e filosóficas, defendendo com unhas e dentes o liberalismo radical que tanto prega.
O que me faz pensar: será que alguém vai ter cabeça para ler sobre teorias econômicas quando mal consegue pagar as contas do mês? É uma pergunta que não quer calar. Mas, curiosamente, o livro já esgotou sua primeira edição — o que mostra que, independentemente da crise, Milei continua polarizando e atraindo atenção.
Reações não faltam
Nas redes sociais, a dupla atitude do presidente gerou reações que vão do apoio incondicional à crítica ferrenha. Alguns admiradores elogiam sua "autenticidade" e capacidade de "não se render ao politicamente correto". Outros, no entanto, veem a cena como um completo desrespeito com a população que sofre diariamente com as medidas de ajuste.
Um usuário do X resumiu bem a situação: "Enquanto meus filhos perguntam quando voltaremos a comer carne, o presidente está tocando guitarra. Surreal". Outro defendeu: "Finalmente um líder que não fica trancado em um escritório! Mostra que é humano como nós".
E você, o que acha? É pura desconexão com a realidade ou uma estratégia calculada para manter sua base mobilizada?
O espetáculo deve continuar?
Analistas políticos estão divididos — e como! Alguns veem nas ações de Milei um claro sinal de que ele está priorizando sua imagem pessoal em detrimento da gravíssima situação do país. Outros, porém, argumentam que se trata de uma forma inteligente de comunicação, mantendo-se no centro das atenções enquanto implementa suas polêmicas reformas.
O fato é que, love him or hate him, Milei continua sendo o protagonista absoluto do drama político argentino. Enquanto a economia desaba, ele canta. Enquanto os mercados entram em pânico, ele autografa livros. É quase como se vivesse em uma realidade paralela — ou será que somos nós que não entendemos seu método?
Uma coisa é certa: na Argentina de hoje, o show — literalmente — não pode parar. Resta saber a que preço.
