Abismo humano em Gaza exigirá décadas de reconstrução
Um relatório alarmante da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), divulgado nesta terça-feira, 25 de novembro de 2025, revela que a reconstrução de Gaza poderá ultrapassar a marca de US$ 70 bilhões e demandará várias décadas para ser concluída.
O documento descreve como a guerra abriu um "abismo produzido pelo homem" na região, com a ofensiva israelense derrubando a economia local em 87% entre 2023 e 2024. Este colapso econômico devolveu a Faixa de Gaza aos níveis de desenvolvimento de vinte anos atrás, eliminando décadas de progresso em apenas quinze meses de conflito.
Economia devastada e retrocesso histórico
Os números apresentados pela UNCTAD são devastadores. O PIB per capita em Gaza despencou para apenas US$ 161, um dos mais baixos do mundo. A renda média regrediu ao patamar de 2003, enquanto o produto interno bruto palestino voltou aos níveis de 2010.
Mais de 174 mil estruturas foram destruídas ou danificadas durante o conflito, o equivalente a 70% de todas as edificações em Gaza. Esta destruição em massa inclui fábricas, hospitais, universidades, sistemas de água e energia, e até instituições bancárias.
Crise humanitária sem precedentes
A situação humanitária na região atingiu níveis críticos. Segundo o Programa Mundial de Alimentos, a maioria das famílias não consegue adquirir itens essenciais básicos. A dieta da população resume-se atualmente a cereais, leguminosas, pequenas quantidades de laticínios e óleo.
Carne, frutas e vegetais praticamente desapareceram do consumo diário. A escassez de gás de cozinha forçou famílias a queimarem plástico e outros resíduos para preparar alimentos, criando riscos adicionais à saúde pública.
Cisjordânia também em crise
O relatório alerta que a situação na Cisjordânia também se deteriorou significativamente. A expansão acelerada de assentamentos, a escalada da violência e as restrições severas à circulação "dizimaram a economia local".
Entre 2023 e 2024, o PIB da Cisjordânia caiu 17%, enquanto o PIB per capita retrocedeu quase 19%, retornando aos níveis de 2008 e 2014. Paralelamente, Israel reteve US$ 1,76 bilhão em repasses fiscais desde 2019, equivalente a 12,8% do PIB palestino em 2024.
Frágil cessar-fogo e esforços de reconstrução
A publicação do documento ocorre durante o cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos, em vigor desde outubro, após quase dois anos de conflito entre Israel e o Hamas. Mesmo com a trégua, o Ministério da Saúde de Gaza registrou 342 palestinos mortos por tropas israelenses desde o início do acordo.
No mesmo período, Israel confirmou a morte de três soldados por disparos de militantes. Nesta terça-feira, Hamas e Jihad Islâmica devolveram os restos mortais de mais um refém israelense, encontrados em Nuseirat.
Enquanto isso, avança o planejamento da força internacional de estabilização de Gaza (ISF), aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU. A Indonésia declarou estar pronta para enviar tropas, incluindo batalhões de engenharia, equipes médicas, navios-hospital e aeronaves militares.
O plano, idealizado pelos Estados Unidos, prevê uma autoridade de transição supervisionada pelo presidente Donald Trump e a abertura de um "caminho" para discussões sobre um futuro Estado palestino. No entanto, especialistas alertam que não há clareza sobre como financiar, executar ou administrar a reconstrução, especialmente diante dos cálculos bilionários e da instabilidade política persistente.
A UNCTAD é categórica em sua conclusão: mesmo com ajuda substancial da comunidade internacional, levará décadas para o PIB de Gaza retornar ao nível pré-outubro de 2023, marcando uma das reconstruções mais desafiadoras do século XXI.