Alemanha anuncia reforma militar com alistamento universal em 2026
Alemanha reforma Exército com alistamento universal

A coalizão governista da Alemanha anunciou nesta quinta-feira, 13 de novembro de 2025, uma reforma histórica para as Forças Armadas do país que estabelece o alistamento universal como regra para todos os jovens de 18 anos, embora o serviço militar continue sendo voluntário - pelo menos por enquanto.

O que muda no sistema militar alemão

A partir de janeiro de 2026, todos os jovens alemães do sexo masculino com 18 anos serão obrigados a responder a um questionário detalhado sobre sua saúde física e mental, além de declarar sua disponibilidade e capacidade para servir nas Forças Armadas. Independentemente do interesse em ingressar no Exército, eles terão que passar pelo processo de inscrição e por exames físicos obrigatórios.

O procedimento será obrigatório para homens e opcional para mulheres, uma herança do antigo sistema de serviço militar que se aplicava exclusivamente ao público masculino. Para alterar essa prerrogativa de gênero, seria necessária uma mudança constitucional aprovada por dois terços do Bundestag, o parlamento alemão - maioria que a atual coalizão teria dificuldades em alcançar.

Expansão das Forças Armadas

O objetivo declarado do chanceler Friedrich Merz é transformar o Bundeswehr, como é conhecido o Exército alemão, em uma das forças militares mais poderosas da Europa. As autoridades militares apontam que o efetivo precisa crescer dos atuais 182 mil soldados para 260 mil até 2035.

O mesmo crescimento ambicioso é planejado para os reservistas, que deverão aumentar de 60 mil para 200 mil no mesmo período. Para atingir essas metas, Berlim pretende oferecer salários competitivos e benefícios atraentes com o objetivo de captar voluntários.

"Vamos tornar o serviço voluntário mais atraente, queremos que o maior número de jovens se empolgue com o serviço por seu país", declarou Jens Spahn, líder da União Democrata Cristã (CDU) no parlamento, durante coletiva à imprensa.

Tensões geopolíticas e debate interno

A reforma representa uma resposta direta à escalada das tensões envolvendo as ações da Rússia na Europa e à pressão dos Estados Unidos para que o continente assuma maior responsabilidade por sua própria proteção. O acordo foi firmado entre a CDU, partido de centro-direita do chanceler Merz, e o Partido Social-Democrata (SPD), parceiro de coalizão de centro-esquerda.

No entanto, existem preocupações significativas sobre a capacidade de ampliar as tropas apenas através do voluntariado. Muitos membros da CDU defendem que apenas a modalidade obrigatória seria capaz de garantir o aumento de efetivo necessário em um momento de crescente tensão militar na Europa.

A retomada do recrutamento compulsório, suspenso em 2011, foi barrada devido à posição dos pacifistas do SPD. As discussões sobre o tema prolongaram-se por meses até o acordo desta quinta-feira, que estabelece que se o programa não atrair voluntários suficientes, os parlamentares "serão convidados" a considerar outras alternativas - incluindo a possibilidade de estabelecer um sistema aleatório de seleção para escolher cidadãos aptos a servir nas forças armadas de forma obrigatória.

"Se, no final, o serviço voluntário não for suficiente, terá que haver um elemento obrigatório", afirmou Spahn de maneira enfática.

O ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, será responsável por apresentar ao Bundestag um relatório semestral sobre os resultados da campanha de recrutamento. "Estou muito, muito confiante de que tudo isso será bem-sucedido", declarou ele durante o anúncio do acordo.

Pistorius também destacou que os exames médicos obrigatórios representam uma medida preventiva eficiente para uma eventual crise, permitindo que Berlim tenha um "retrato completo" de seus jovens para avaliar as capacidades de defesa do país.