
Não é segredo pra ninguém que o barco da direita brasileira está balançando forte — e não é pouco. O que antes parecia um bloco monolítico, uma força coesa, hoje mais se assemelha a um quebra-cabeça com peças faltando e outras que simplesmente não se encaixam mais. A pergunta que fica, ecoando nos corredores do poder e nos grupos de WhatsApp, é simplesmente incômoda: para onde vamos a partir daqui?
O cerne dessa turbulência toda, vamos combinar, é a figura do ex-presidente Jair Bolsonaro. Love him or hate him, ele continua sendo o grande polarizador, o norte (às vezes magnético demais) que orienta — ou desorienta — a direita. Mas e quando esse ímã começa a perder a força? O que acontece com as agulhas?
O PL no Olho do Furacão
O Partido Liberal, que deveria ser a casa organizada do bolsonarismo, vive seu próprio drama shakespeariano. De um lado, a ala que defende lealdade absoluta ao capitão, quase que num pacto de sangue. Do outro, um grupo que já cansou de navegar à deriva e quer retomar o leme, pensar em estratégias que vão além de um só nome. É uma tensão que ferve a cada reunião, a cada votação, a cada postagem nas redes sociais.
E no meio disso, surgem vozes dissonantes. Alguns deputados e líderes regionais, cansados de serem apenas coadjuvantes num roteiro que não escreveram, começam a questionar. Eles querem mais autonomia, querem discutir projetos, querem mostrar serviço — e não apenas culto à personalidade. É uma rebelião silenciosa, mas que faz um barulho ensurdecedor para quem está de ouvidos atentos.
A Ascensão de Novos (e Velhos) Personagens
Enquanto o PL se debate internamente, outros partidos farejam a oportunidade no ar. O União Brasil, por exemplo, se move com uma astúcia felina. Eles não querem herdar apenas a base eleitoral bolsonarista; querem oferecer uma alternativa, uma direita mais pragmática, menos atrelada aos dramas pessoais de uma única figura.
E não para por aí. Novos nomes emergem no cenário, muitos deles saindo da toca do próprio governo Bolsonaro. São técnicos, ministros, figuras que carregam o estandarte ideológico mas sem a carga explosiva da polarização extrema. Eles representam um bolsonarismo sem Bolsonaro? Talvez. Ou talvez apenas a evolução natural de um movimento que precisa amadurecer ou morrer.
O Eleitor no Centro do Ringue
E o cidadão comum, que votou, que acreditou, que apoiou? Ah, esse está dividido, confuso e, em muitos casos, profundamente desiludido. Uma parcela ainda grita "mito" com unhas e dentes, vendo qualquer crítica como traição. Outra, no entanto, já começa a olhar para o lado, a avaliar outras opções dentro do espectro conservador — ou até mesmo a ficar em casa no próximo domingo de eleição.
Essa fragmentação do apoio popular é, talvez, o sintoma mais perigoso para o movimento. Porque sem a massa fiel, unida e barulhenta, o castelo de cartas pode desmoronar muito mais rápido do que se imagina.
O futuro, como sempre, é uma incógnita. O bolsonarismo vai se reinventar, encontrando um novo eixo que una as tribos dispersas? Vai se fragmentar em siglas menores e personalistas, cada uma puxando a brasa para sua sardinha? Ou será absorvido por uma direita mais ampla, tradicional, que espera nos bastidores há anos?
Uma coisa é certa: o jogo político brasileiro está mais complexo e imprevisível do que nunca. E a direita, que há pouco tempo dava as cartas, agora precisa aprender a jogar com um baralho completamente novo — e embaralhado.