
O plenário da ALERJ virou palco de emoção nesta quarta-feira. Nem mesmo o ar condicionado — daqueles que parecem querer congelar até as ideias — conseguiu esfriar os corações presentes. Alfredo Sirkis, aquele sujeito que misturava política com ambientalismo como ninguém, ganhou uma homenagem que, convenhamos, foi mais vibrante do que muitos discursos que ele próprio deve ter ouvido em vida.
Gilberto Gil apareceu sem alarde — dessas entradas que todo mundo nota, mas finge que não — e soltou a voz como quem rega uma planta esquecida. "Terra", música que já ecoou em tantos contextos, ganhou novo significado entre as paredes do legislativo fluminense. Quem estava lá garante: até os seguranças mais carrancudos balançavam o pé discretamente.
O político que virou lenda
Sirkis, pra quem não se lembra, foi daqueles tipos que não cabiam em rótulos fáceis. Ex-guerrilheiro, jornalista, secretário do clima — o cara pulou de galho em galho como um sabiá urbano. Morreu em 2020 num acidente de trânsito que deixou todo mundo se perguntando: "como alguém tão cheio de planos pode ir embora tão de repente?"
A viúva, Irene Sirkis, ocupou a tribuna com aquela mistura de dor e orgulho que só quem ama um idealista conhece. "Ele não era fácil", admitiu, arrancando risos conhecidos da plateia. De fato, convencer burocratas sobre urgência climática nos anos 90 era tipo ensinar física quântica pra gatinho — possível, mas trabalhoso.
Legado que resiste
O atual presidente da ALERJ, André Ceciliano, soltou uma frase que resumiu o clima: "Alguns políticos deixam obras, outros deixam marcas. Sirkis deixou rastros". E que rastros! O Centro Brasil no Clima, organização criada por ele, segue firme como aquela árvore que teima em crescer no asfalto rachado.
Curioso notar como certas homenagens parecem vir com atraso. Enquanto isso, nas redes sociais, jovens descobrem Sirkis através de memes com suas frases mais ácidas — ironia que ele, com seu humor peculiar, provavelmente apreciaria.
O evento terminou com um detalhe simbólico: um minuto de silêncio que, pra variar, ninguém conseguiu manter completamente em silêncio. Celulares vibraram, tosses ecoaram, alguém derrubou uma caneta. Vida seguindo, como sempre — exatamente como ele gostaria.