
Parece óbvio, né? Quem melhor para cuidar da floresta do que quem sempre viveu nela. Mas essa simplicidade toda ainda não chegou nos gabinetes de Brasília. E é justamente essa contradição que professores do Acre resolveram enfrentar de frente.
De repente, uma carta. Não qualquer carta, mas um documento que chega com o peso de quem conhece o chão que pisa. Educadores de Rio Branco e região se uniram para mandar um recado que, francamente, deveria ser autoexplicativo: a gestão ambiental no Brasil precisa, urgentemente, dos povos tradicionais.
Saberes que vêm da terra
Não se trata só de incluir, entende? É sobre reconhecer que o conhecimento dessas comunidades – indígenas, ribeirinhos, seringueiros – não é "alternativo". É fundamental. Enquanto técnicos de escritório estudam relatórios, esses povos leem a floresta como quem lê um livro aberto.
Os professores foram categóricos: sem essa participação direta, as políticas ambientais continuarão sendo remendos desconexos. E olha, a gente já viu como isso termina.
Da sala de aula para o mundo
O interessante é que essa mobilização nasceu justamente das vivências em sala de aula. Muitos desses educadores trabalham em regiões onde a floresta é mais do que paisagem – é vida, é identidade, é história. Eles veem diariamente como o desrespeito aos saberes tradicionais gera consequências reais.
"Não dá mais para fingir que não vemos", diz um trecho da carta que me fez parar para pensar. E faz sentido, não faz? Como podemos falar em proteger a Amazônia ignorando quem melhor entende seus segredos?
Um chamado que ecoa
A iniciativa partiu de um grupo de professores que participou de um encontro nacional de educação ambiental em Belém. Lá, longe do Acre, perceberam que suas lutas locais tinham ecos nacionais. E resolveram transformar essa percepção em ação.
O documento – que já está circulando em secretarias de educação e órgãos ambientais – defende três pilares básicos:
- Participação efetiva, não apenas simbólica, nas decisões
- Reconhecimento dos saberes tradicionais como ciência legítima
- Criação de mecanismos permanentes de consulta
Parece pouco? Talvez. Mas é um começo. E, convenhamos, melhor começar tarde do que continuar fingindo que a solução está apenas em relatórios e planilhas.
O Acre como espelho
O que me impressiona é como o Acre – tantas vezes esquecido nos debates nacionais – surge aqui como farol. Os professores locais entendem algo que muitos "especialistas" de centros urbanos ignoram: a floresta tem dono. E esses donos não são os que têm documentos de propriedade, mas os que têm histórias entrelaçadas com cada árvore, cada rio.
Não se trata de romantizar, cuidado. É sobre pragmatismo puro e simples: quem quer proteger algo precisa primeiro entendê-lo. E nisso, os povos tradicionais são mestres incontestáveis.
A carta já está nas mãos de gestores públicos. Resta saber se será lida como mais um documento ou como o chamado urgente que realmente é. Porque o tempo da floresta, diferente do tempo burocrático, não para.