Cuiabá vira palco de debate acalorado sobre demarcação de terras indígenas e protestos tomam as ruas
Cuiabá debate demarcação de terras indígenas com protestos

Não é de hoje que a questão indígena esquenta os ânimos em Mato Grosso — e dessa vez o caldeirão fervendo foi em Cuiabá. Enquanto especialistas debatiam num auditório climatizado, do lado de fora a realidade era outra: pinturas corporais, cantos tradicionais e faixas com frases de efeito tomavam conta do cenário.

"É fácil discutir mapas quando não é seu chão que está em jogo", gritava uma liderança Kayapó, com aquela voz que corta como facão. E não é que ela tem razão? Enquanto alguns falam em "balanço econômico", outros lutam pelo direito básico de existir em suas próprias terras.

O que estava em pauta?

O tal evento — organizado por não sei quais entidades governamentais — prometia ser mais um daqueles debates técnicos que geralmente terminam em pizza. Mas aí é que está: os povos originários cansaram de ser tratados como meros espectadores da própria história.

  • Dados do CIMI mostram que 42% das terras indígenas no MT ainda não foram regularizadas
  • Processos de demarcação travados há mais de 15 anos na Justiça
  • Pressão do agronegócio sobre áreas tradicionalmente ocupadas

Não é mole não. Enquanto isso, no calor de 38°C (típico cuiabano nessa época), jovens indígenas faziam performances que misturavam dança ancestral com protesto político. "Isso não é folclore, é resistência", explicou uma estudante Terena, com aquela mistura de orgulho e cansaço no olhar.

E os ruralistas?

Ah, esses não ficaram quietos não. Do outro lado da rua, um grupo menor — mas não menos vocal — defendia a "produção que alimenta o Brasil". Um senhor de chapéu de couro chegou a dizer que "índio tem muita terra pra pouco gente", ignorando convenientemente séculos de história.

O clima, como você pode imaginar, estava mais tenso que corda de viola no meio do rodeio. A PM ficou de prontidão, mas felizmente não houve necessidade de intervenção — só muito calor humano (no bom e no ruim sentido).

No final, o que ficou claro? Que essa discussão está longe de acabar. Enquanto o governo federal empurra com a barriga, no Mato Grosso a realidade é mais urgente: são vidas, culturas e futuros em jogo. E Cuiabá, mesmo sem querer, virou o espelho desse Brasil dividido.