COP30: Resistência de países ricos ao fundo de florestas tropicais
COP30: Desconfiança atrasa fundo para florestas tropicais

O presidente da COP30, embaixador André Correa do Lago, confirmou publicamente a ambição do governo brasileiro de captar 10 bilhões de dólares para o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) durante o ano de presidência do Brasil na conferência climática da ONU. A declaração foi dada em Belém, no dia 10 de novembro de 2025, durante a cerimônia de abertura do evento global.

Desconfiança dos países desenvolvidos

Segundo o embaixador, que permanecerá no cargo pelos próximos 12 meses, a resistência inicial das nações ricas em investir no fundo tem uma explicação clara: a desconfiança. Os países desenvolvidos, que historicamente têm a responsabilidade de financiar ações climáticas em nações mais pobres, ainda não assimilaram completamente que o mecanismo financeiro proposto pelo Brasil também pode trazer benefícios econômicos diretos para eles.

“O TFFF é muito diferente. No fundo, eles estão achando estranho que veio do Brasil uma ideia que também é boa para eles. Por isso, estão demorando um pouco para analisar”, explicou Correa do Lago em entrevista à VEJA.

O governo brasileiro tinha a expectativa de que Reino Unido e Alemanha fossem os primeiros a aderir formalmente ao fundo. Embora ambas as nações tenham se comprometido com a ideia, nenhum aporte financeiro concreto foi realizado até o momento. Apesar do atraso, o presidente da COP30 demonstrou confiança em uma reversão deste cenário em um futuro próximo.

Como funciona o Fundo Florestas Tropicais para Sempre

O mecanismo financeiro foi desenhado com uma modelagem inovadora. A proposta inicial prevê que os países ricos aportem um capital inicial de 25 bilhões de dólares, utilizando recursos de suas reservas cambiais. Normalmente, esse capital é investido em títulos do tesouro americano, considerados os mais seguros do mundo.

Para se tornar atraente, o TFFF garantiria a mesma taxa de retorno aos investidores, mas com uma diferença crucial: poderia utilizar os recursos para negociar papéis mais rentáveis disponíveis no mercado. O objetivo é ampliar o volume de transações para até 125 bilhões de dólares, o equivalente a cinco vezes o investimento base.

Todo o excedente financeiro obtido com essa estratégia de investimento seria integralmente destinado à preservação das florestas tropicais ao redor do mundo.

Alianças internacionais e próximos passos

O Brasil é o idealizador principal do fundo, mas construiu uma ampla coalizão internacional para seu desenvolvimento. O grupo de nações aptas a receber os recursos inclui mais de 70 países, entre os quais:

  • República Democrática do Congo
  • Indonésia
  • Malásia
  • Colômbia
  • Gana

Estes países também foram convidados a colaborar ativamente na estruturação do fundo. Do lado dos investidores, o grupo é representado por França, Noruega, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido e Alemanha.

Até o momento, apenas dois países realizaram contribuições concretas: a França, com 5,5 milhões de dólares, e a Noruega, com 3 bilhões de dólares. O Brasil segue pressionando os demais parceiros para compor o capital inicial necessário para colocar o fundo em operação plena.

Correa do Lago destacou o caráter inovador da proposta: “À medida em que as pessoas entendem [como o fundo funciona], há uma revelação de que nós estamos conseguindo propor uma coisa que dá valor à floresta em pé, algo que outros países tentam fazer há décadas, mas que até agora não funcionou”.