O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), fez um balanço da sua gestão e da relação com o Palácio do Planalto nesta sexta-feira (19). Em café com a imprensa, o primeiro desde que assumiu o cargo em fevereiro, Motta afirmou que a conexão com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) viveu momentos de tensão, mas termina o ano "estabilizada" e com perspectivas de mais diálogo.
Altos e baixos naturais entre os Poderes
Motta explicou que divergências entre o Executivo e o Legislativo são comuns e até saudáveis para a democracia. "Como todas as relações das nossas vidas, tem altos e baixos, e isso é muito natural", disse o parlamentar paraibano. Ele ressaltou que cada Poder tem sua independência e dinâmica, e a Constituição não exige concordância total em todos os pontos.
O presidente da Câmara listou alguns dos momentos mais conturbados do ano, que testaram essa relação. Entre eles estão a derrubada do decreto que tratava do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), a escolha de um aliado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para relatar o projeto de lei antifacção, além das votações do PL da Dosimetria e da PEC da Blindagem.
Apesar desses atritos, Motta minimizou as discordâncias. "Existem os altos e baixos, as discordâncias, mas esse respeito não se perdeu", afirmou. Ele destacou manter um diálogo respeitoso tanto com o presidente Lula quanto com seus principais interlocutores, como a ministra Gleisi Hoffmann e o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).
Mudança de postura e novos nomes no governo
Um sinal dessa estabilização, na visão de Motta, foi a mudança de posicionamento da Câmara em temas econômicos. Em outubro, a Casa rejeitou a proposta de aumento de impostos para apostas esportivas (bets) e fintechs. Agora, em dezembro, aprovou a medida junto com um corte de benefícios fiscais.
O parlamentar atribuiu a virada a um "amadurecimento do Congresso" e a uma melhor compreensão do momento político por parte dos líderes partidários. "Acho que foi o amadurecimento do Congresso e o entendimento do momento de ser votado", explicou.
Motta também comentou a recente troca no Ministério do Turismo, onde Gustavo Feliciano substituiu Celso Sabino. Filho do deputado Damião Feliciano (União Brasil-PB), aliado de Motta, o novo ministro foi elogiado pelo presidente da Câmara. "Conheço o Gustavo. Foi bom secretário lá no estado [Paraíba], tem boa interlocução política. O presidente foi feliz na escolha", disse.
Ele acredita que a mudança pode fortalecer a governabilidade, atraindo o apoio da ala do União Brasil que deseja se aproximar do governo Lula.
Respostas a críticas e defesa do papel do Judiciário
O presidente da Câmara também respondeu às críticas públicas feitas pelo seu antecessor e aliado, o ex-presidente da Casa Arthur Lira (PP-AL). Em mensagens no grupo de WhatsApp da bancada do PP, Lira classificou a condução atual da Câmara como "uma esculhambação" após a rejeição da cassação do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ).
Motta afirmou manter uma relação de amizade e respeito com Lira, mas discordou das críticas. "Eu não concordo com as críticas. Eu também não sei se foi tirado de contexto o que ele disse", ponderou. Ele argumentou que cada gestor tem seu estilo próprio de liderança e tomada de decisão.
Além disso, o presidente da Câmara compartilhou com o colégio de líderes partidários a responsabilidade pelos acontecimentos do ano. "O posicionamento do presidente da Câmara é sempre tomado em concordância e com o apoio do colégio de líderes [...] Então eu divido com o colégio os erros e os acertos", declarou.
Sobre a atuação do Judiciário, Motta foi claro ao defender que é papel do STF (Supremo Tribunal Federal) ordenar investigações contra parlamentares quando necessário. "A Câmara não tem compromisso em estar protegendo aquilo que não é correto. A Câmara dos Deputados não tem essa função, muito menos o presidente", afirmou.
Ele reconheceu que ninguém fica feliz quando um colega é alvo de ações judiciais, mas ressaltou que isso faz parte do cumprimento do dever por parte do Judiciário. Motta também evitou falar em candidaturas presidenciais, argumentando que precisa manter a neutralidade para conduzir a Casa sem polarizações.
Olhando para o futuro, o presidente da Câmara reafirmou que honrará o acordo com o PT para a eleição do deputado Odair Cunha (PT-MG) ao TCU (Tribunal de Contas da União) em fevereiro, ouvindo os líderes sobre o melhor momento para a votação. A perspectiva para 2026, segundo ele, é de mais diálogo e uma relação institucional fortalecida.