Última Homenagem a Luiz Fernando Pacheco Reúne Ministros e Autoridades em São Paulo
Velório de advogado reúne ministros e autoridades em SP

O silêncio pesado no salão funerário da zona sul de São Paulo dizia mais que mil palavras. Nesta quinta-feira, uma multidão de rostos conhecidos — e tantos outros anônimos — se reuniu para dizer adeus a Luiz Fernando Pacheco, um daqueles advogados que deixam marcas profundas não apenas nos processos, mas nas pessoas.

O que me chamou atenção, francamente, foi a diversidade de gente que apareceu. Não era só aquela turma engravatada que você imagina num evento jurídico. Tinha desde ministros do Supremo — e olha, reconheci pelo menos três — até amigos de infância, ex-funcionários, gente que ele defendeu sem cobrar um centavo. Isso sim conta a história de um homem.

Presenças que falam mais que discursos

O ambiente, apesar da tristeza inevitável, tinha um certo calor humano que raramente se vê nesses eventos formais. As pessoas não trocavam apenas apertos de mão protocolares — se abraçavam de verdade, compartilhavam histórias, riam de lembranças engraçadas. Parecia mais uma reunião de família do que um velório.

E que histórias! Um senhor mais idoso, com lágrimas nos olhos, me contou — sem eu perguntar, diga-se — como Pacheco havia salvado o negócio da família nos anos 90, trabalhando quase de graça quando a situação estava preta. "Ele não era desses advogados que só olham para o relógio", disse o homem, voz embargada. "Era daqueles raros que olham para a alma."

O legado além dos tribunais

O que pouca gente sabe — e eu só fui descobrir lá — é que Pacheco mantinha um trabalho discreto, quase secreto, de assistência jurídica para comunidades carentes. Não aparecia na mídia, não virava press release. Dois jovens advogados que trabalhavam com ele nesse projeto me disseram que ele insistia: "Direito não é privilégio, é oxigênio."

Numa época onde o mundo jurídico parece cada vez mais distante das pessoas comuns, encontrar uma figura assim é como achar água no deserto. Faz você recuperar um pouco da fé na profissão, sabe?

As homenagens foram se sucedendo ao longo da tarde. Coroas de flores se acumulavam, mensagens emocionadas de colegas de profissão, clientes agradecidos, familiares. Uma das filhas, visivelmente abalada mas serena, recebia cada um com um sorriso triste mas genuíno. "Meu pai sempre dizia que a vida é feita de encontros", ela me contou. "Hoje ele está tendo seu último grande encontro."

Por volta das 18h, quando o sol começava a se despedir, o fluxo de visitantes ainda era intenso. Gente chegando de todo canto, alguns direto do aeroporto, outros que haviam viajado horas para estar ali. Isso me fez pensar — quantos de nós teremos uma despedida assim? Com tanta gente, tanto afeto real?

O corpo foi cremado no final da tarde, num cerimonial reservado para familiares e amigos mais próximos. Mas o que ficou naquele salão vazio, depois que todos foram embora, era mais que memória — era exemplo. Daqueles que doam mais do que recebem, que constroem pontes em vez de muros.

O Brasil perdeu hoje um de seus grandes defensores da Justiça. Mas o que ele plantou — nos tribunais, nas comunidades, nas pessoas — isso ninguém vai conseguir apagar.