O governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos), retornou ao cargo após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Nunes Marques, conceder uma medida cautelar em seu favor. A decisão, publicada na sexta-feira, 5 de dezembro, suspende o afastamento de 180 dias determinado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em setembro de 2025.
Falta de provas e contemporaneidade
A liminar atendeu a um pedido de habeas corpus da defesa de Barbosa. Em sua análise, o ministro Nunes Marques destacou dois pontos centrais: a falta de provas robustas que vinculem o governador diretamente aos crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa, e a ausência de contemporaneidade entre os fatos investigados e a medida de afastamento.
As investigações da Polícia Federal, na Operação Fames-19, apuram um suposto esquema de desvio de recursos na compra de cestas básicas durante a pandemia de Covid-19, em 2020 e 2021. Na época, Wanderlei Barbosa era secretário da Setas (Secretaria de Estado de Ação Social), órgão responsável pelos repasses. A Procuradoria-Geral da República (PGR) também se manifestou contra o afastamento, apontando a "fragilidade dos indícios".
O ministro não ignorou os indícios apontados pela PF, mas considerou que eles não formam, no momento, um quadro probatório consistente o suficiente para justificar a remoção do governador. Ele também ressaltou que o afastamento foi ordenado apenas em outubro de 2025, quatro anos após os contratos irregulares e às vésperas de um ano eleitoral.
Os detalhes da investigação
A Operação Fames-19 investiga um esquema que teria desviado recursos de contratos para fornecimento de cestas básicas a famílias vulneráveis. Segundo a PF, o governador teria recebido propina de empresários e usado o dinheiro ilícito na construção de uma pousada de luxo em Taquaruçu, chamada Pedra Canga.
A primeira-dama e secretária extraordinária de Participações Sociais, Karynne Sotero, que também foi afastada, é suspeita de intermediar as contratações e organizar a documentação. As conversas extraídas do celular de Paulo César Lustosa, ex-marido de Karynne e suposto lobista, foram consideradas inconclusivas pelo ministro para atribuir a prática ilícita a Barbosa.
Nova operação e desdobramentos
Em novembro de 2025, Wanderlei Barbosa foi alvo de uma nova operação da PF, suspeito de tentar atrapalhar as investigações da Fames-19. Agentes cumpriram mandados de busca e apreensão e encontraram indícios de que documentos de interesse da investigação teriam sido removidos. Na casa do governador, a polícia encontrou um celular que havia sido restaurado para as configurações de fábrica.
A decisão do ministro Nunes Marques é liminar e ainda precisa ser referendada pela Segunda Turma do STF. Enquanto isso, Wanderlei Barbosa reassume o comando do Executivo estadual após três meses afastado. As investigações sobre os supostos desvios nas contratações de cestas básicas continuam em curso sob sigilo no STJ.