
O cacique Raoni Metuktire, uma das maiores lideranças indígenas do Brasil, revelou em entrevista exclusiva como foi instrumentalizado pela Força Aérea Brasileira (FAB) durante o período da ditadura militar (1964-1985).
Segundo o líder Kayapó, militares da Aeronáutica o levaram para diversas bases aéreas como parte de uma estratégia de propaganda do regime. "Eles me usavam para mostrar que os indígenas estavam felizes com o governo militar", denunciou Raoni.
Os bastidores da manipulação
Raoni detalhou como ocorriam essas visitas:
- Era transportado em aviões militares sem compreender plenamente o contexto político
- Participava de cerimônias onde era apresentado como "aliado" do regime
- Tinha sua imagem associada a discursos de desenvolvimento nacional
O cacique afirma que só anos depois entendeu que estava sendo usado: "Eu não sabia o que era ditadura. Achava que estavam me ajudando, mas era mentira".
O impacto nas comunidades indígenas
Essa manipulação ocorria enquanto:
- Terras indígenas eram invadidas com apoio do governo
- Direitos constitucionais dos povos originários eram violados
- Líderes contrários ao regime sofriam perseguição
Raoni destaca a contradição: "Enquanto me mostravam como símbolo, destruíam nossas florestas e culturas".
O legado histórico
Essas revelações jogam nova luz sobre as relações entre o Estado brasileiro e os povos indígenas durante um dos períodos mais sombrios do país. Mostram como o regime militar usava figuras icônicas para construir uma narrativa falsa de harmonia social.
Hoje, aos 93 anos, Raoni espera que seu testemunho ajude a reescrever essa história: "Quero que as novas gerações saibam a verdade".