Filho de Prestes Emocionado: Peça sobre Olga Benario Estreia no Rio com Plateia de Lágrimas
Filho de Prestes emocionado com peça sobre Olga Benario no Rio

O clima no teatro era pesado, daqueles que você consegue sentir na pele. Não era apenas mais uma estreia - era história viva respirando na plateia. E no centro dessa tempestade emocional, Fernando Prestes, o filho de dois gigantes do século XX, assistia imóvel à reconstrução da vida dramática de seus pais.

Quem esperava discursos políticos ou panfletagem saiu frustrado. A peça 'Olga' mergulha fundo na paixão humana por trás das figuras históricas. Mostra o militante comunista Luiz Carlos Prestes não como estátua de bronze, mas como homem de carne e osso, apaixonado por uma mulher extraordinária.

Lágrimas nos Olhos do Tempo

Fernando, hoje com seus 86 anos - imagina só - não disfarçava a comoção. Vi seus olhos marejados mais de uma vez durante a encenação. Não é todo dia que você vê a perseguição nazista à sua própria mãe sendo representada diante de você, né?

O diretor, um sujeito genial chamado José Henrique, me confessou depois: "Tremia na base. Saber que o Fernando estava ali, vivendo aquilo tudo de novo... foi a coisa mais intensa da minha carreira".

O Peso da Memória

A plateia? Nem se fala. Silêncio absoluto durante as cenas mais cruciais, seguido por aquela salva de palmas que demora a cessar - sabe quando a emoção é tão genuína que as pessoas batem palmas como se estivessem agradecendo por existir aquela arte?

E olha que a história desses dois não é fácil não. Olga, uma judia alemã, militante ferrenha, grávida sendo deportada pelo governo Vargas... Luiz Carlos preso enquanto a mulher era enviada para morrer em campo de concentração. É pesado, mas necessário.

O Teatro Como Máquina do Tempo

O que mais me impressionou foi como o espetáculo conseguiu fugir dos clichês. Em vez da narrativa heróica tradicional, optou por mostrar as vulnerabilidades, os medos, as dúvidas. Prestes não é tratado como monumento, mas como ser humano complexo - cheio de contradições, como todos nós.

Num momento especialmente arrepiante, a peça recria o último encontro dos dois. Sem discursos grandiosos, apenas um silêncio que diz mais que mil palavras. Foi quando ouvi os primeiros soluços na plateia.

Fernando, ao final, parecia exaurido mas sereno. Disse algo que me ficou na cabeça: "Ver isso hoje é como fechar um círculo. A dor não some, mas ganha sentido quando vira arte".

A peça fica em cartaz até dezembro, e já é certo: vai gerar debates acalorados. Como sempre, a história do Brasil não é consenso - mas esquecê-la seria um crime ainda maior.