
Passaram-se 52 anos. Meio século e mais dois anos, mas a ferida ainda sangra na memória do país. Honestino Moniz Guimarães tinha apenas 26 anos quando o regime militar brasileiro decidiu que sua voz era perigosa demais para continuar ecoando.
Era outubro de 1973 quando o presidente do Diretório Central dos Estudantes da Universidade de Brasília simplesmente evaporou do mapa. Não foi um desaparecimento comum — foi uma execução política disfarçada de sumiço, um assassinato que o Estado teimou em negar por décadas a fio.
O estudante que virou símbolo
Nascido em 1947 no interior de Goiás, Honestino parecia destinado a coisas maiores desde cedo. Mudou-se para Brasília ainda adolescente, e foi na capital federal que sua consciência política despertou com força total. Na UnB, encontrou seu chamado: lutar por um Brasil mais justo em plenos anos de chumbo.
O que torna sua história tão pungente? Talvez a combinação explosiva de idealismo juvenil com a crueza da repressão. Ele acreditava, de verdade, que os estudantes poderiam mudar o rumo do país. E isso, na época, era crime punível com a morte.
O preço da resistência
A última vez que alguém viu Honestino com vida foi em 10 de outubro de 1973. Agentes do DOI-Codi — aquela máquina de tortura institucionalizada — o sequestraram ao sair da universidade. Testemunhas? Havia várias, mas o medo as calou por anos.
O que se seguiu foi um daqueles capítulos sombrios que o Brasil insiste em não esquecer. Tortura, interrogatórios brutais e, por fim, o silêncio. Sua família peregrinou por quartéis e delegacias, sempre recebendo a mesma resposta: "não temos informações".
Somente em 1996, mais de vinte anos depois, a verdade veio à tona através da Lei dos Desaparecidos Políticos. Honestino estava morto — executado pela ditadura que ele tanto combatia.
Das sombras para as telas
Agora, numa desses reviravoltas que a história às vezes permite, sua trajetória ganhará o tratamento que merece. Bruno Gagliasso, um dos atores mais talentosos de sua geração, encarnará Honestino nas telas do cinema.
E cá entre nós: a escolha não poderia ser mais acertada. Gagliasso tem aquela intensidade necessária para traduzir a complexidade de um homem que preferiu morrer de pé a viver de joelhos.
A produção promete mergulhar fundo não apenas no ativismo político, mas no homem por trás do mito. O filho, o marido, o amigo — todas as facetas que a ditadura tentou apagar com violência.
Por que essa história ainda importa?
Alguém poderia perguntar: pra que revolver o passado? A resposta é simples — porque esquecer é tornar-se cúmplice. Honestino representa milhares de brasileiros que tombaram lutando por liberdades que hoje consideramos óbvias.
Sua cinebiografia chega num momento crucial, quando discursos revisionistas tentam branquear os horrores da ditadura. É um lembrete necessário: alguns heróis não usam capa, carregam livros e ideais.
O filme, ainda sem data de estreia confirmada, já nasce com peso histórico. Não será apenas entretenimento — será um ato de resistência cultural, um grito que ecoa através das décadas.
Honestino Guimarães pode ter sido silenciado em 1973, mas sua voz está prestes a ressoar mais forte do que nunca. E dessa vez, nem a mais brutal das ditaduras poderá calá-la.