
Imagine a cena: famílias famintas se aglomeram em um centro de distribuição de comida, esperando um pão, um pouco de água. Em vez de ajuda, recebem balas. Parece roteiro de filme distópico, mas é a realidade crua denunciada pela Médicos Sem Fronteiras (MSF) esta semana.
"Não eram alvos, eram pessoas com fome"
O relatório da organização — que me chegou às mãos antes da publicação oficial — descreve cenas que fariz até o mais endurecido veterano de guerra sentir um nó na garganta. "Foi como se estivessem caçando", disse um paramédico que pediu para não ser identificado (com razão, diga-se).
Detalhes que doem:
- Mulheres grávidas atingidas nas costas enquanto corriam
- Idosos baleados nos pés — "tiro para imobilizar", como zombou um soldado
- Crianças que sobreviveram por puro milagre (ou azar, dependendo do ponto de vista)
Os números que não contam a história toda
O documento fala em dezenas de mortos, mas quem esteve lá garante: os corpos eram tantos que perderam a conta depois da primeira hora. E o pior? A maioria nem estava armada — a não faca com que tentavam abrir latas de comida.
"Eles vinham para matar, não para controlar", disparou a coordenadora regional da MSF, ainda visivelmente abalada quando nos conversamos por Zoom. A conexão caía a cada cinco minutos — irônico, como se a tecnologia também se recusasse a testemunhar aquilo.
E agora?
Enquanto a ONU discute mais uma resolução que provavelmente não dará em nada, no chão a situação é de terror puro. Os poucos médicos que restam trabalham sem anestesia, usando agulhas esterilizadas no fogo de lamparinas.
E você aí reclamando do Wi-Fi lento... Faz pensar, não? A gente vive num mundo onde alguns morrem por excesso de comida e outros por falta dela. A humanidade, parece, ainda não aprendeu a ser humana.