
Dois anos. Parece uma eternidade, não é? Especialmente quando você é apenas um adolescente, longe de casa, em um país cuja língua soa como um murmúrio confuso, esperando por um único momento: reencontrar sua família.
Essa é a realidade crua e nua de um grupo de jovens afegãos que encontraram abrigo em São Paulo. Eles escaparam do inferno — literalmente, considerando o caos que se instalou no Afeganistão — mas tropeçaram em um novo tipo de pesadelo: a máquina estatal brasileira e sua lentidão agonizante.
O Limbo em Terra Paulista
Eles chegaram aqui ainda meninos, com histórias de horror que ninguém da sua idade deveria carregar. O Brasil abriu as portas, sim. Ofereceu um teto, comida, um lugar seguro. Mas, cá entre nós, segurança sem afeto familiar é como um carro sem motor: não vai a lugar nenhum.
O cerne do problema? Uma papelada monstruosa que parece se multiplicar. Processos de reunificação familiar que simplesmente… emperram. E ninguém — absolutamente ninguém — consegue explicar direito o porquê da demora. É um silêncio que gruda na alma.
O que Dizem as Entidades?
O CONARE (Comitê Nacional para os Refugiados) joga a culpa no… suspense… próprio sistema. Dizem que analisam caso a caso, com o devido cuidado. Claro, ninguém quer fazer algo nas coxas. Mas dois anos? Sério? Até a Muralha da China foi construída mais rápido.
Já o ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados) tenta fazer um malabarismo hercúleo, pressionando discretamente os governos e preenchendo mais formulários do que um recrutador de RH em dia de contratação. Eles admitem: a situação é complexa. Mas complexidade não deveria ser sinônimo de impasse eterno.
E os adolescentes? Ah, esses… Eles tentam seguir a vida. Estudam português, sonham com empregos, jogam futebol. Mas seus olhos, sempre distantes, delatam a verdade. A espera está consumindo pedaços deles, dia após dia.
Não é Apenas um Número
É fácil ver isso como mais uma notícia triste no jornal das oito. Mas vamos falar sério: imagine seu filho, seu irmão, preso em um limbo jurídico do outro lado do mundo. Dois anos sem um abraço. Dois anos de incerteza. Dois anos de ‘qualquer dia agora’.
O sistema precisa de uma chacoalhada. Urgentemente. Humanidade não pode ser um item perdido na pilha de processos de um funcionário público. É preciso agilidade, empatia e, acima de tudo, ação. Porque enquanto a burocracia dormita, vidas reais estão suspensas, esperando por uma assinatura, um carimbo, um milagre.
O tempo, afinal de contas, é a única coisa que eles não podem recuperar.