
Numa quinta-feira qualquer, o coração de Belo Horizonte pulsou diferente. Não era só mais um evento corporativo - era a Expo Favela, misturando o cheiro de pão de queijo com sonhos ambiciosos. Quem diria que o mesmo lugar que sedia feiras de tecnologia abrigaria agora essa explosão de criatividade das periferias?
Mais de 50 empreendedores - alguns com as unhas ainda sujas de tinta de suas últimas produções - apresentaram projetos que desafiam qualquer estereótipo. De cervejaria artesanal a aplicativos que mapeiam comércios locais, a diversidade era tanta que até os investidores mais cascudos ficaram com aquela pontinha de inveja da originalidade.
Não é caridade, é negócio
O clima? Nem um pouco daquele papo formal de paletó e gravata. "Aqui a gente fala dinheiro, mas sem esquecer de onde vem", soltou Marcos Silva, um dos organizadores, enquanto ajustava o boné. E os números provam: só no primeiro dia, R$ 120 mil em negociações foram fechadas ali mesmo, entre um café e outro.
Destaques do evento:
- Moda sustentável feita com retalhos que antes iam pro lixo
- Cosméticos veganos desenvolvidos no quintal de uma casa na Vila São José
- Até um sistema de irrigação inteligente criado por um jovem que nunca pisou numa faculdade
E olha só que ironia: enquanto muito empresário tradicional reclama da crise, esses caras estão crescendo a taxas que deixariam qualquer MBA de cabelo em pé. "A gente sabe fazer milagre com pouco", riu Maria das Graças, dona de uma marca de doces que já exporta pra três países.
O outro lado da moeda
Claro que nem tudo são flores. Muitos ainda enfrentam aquele velho preconceito - "ah, mas é da favela...". Só que eventos como esse estão virando o jogo. "Quando o produto é bom, o CEP vira detalhe", disparou um investidor que preferiu não ter o nome divulgado (mas que fechou três contratos no local).
Pra quem acha que inovação só nasce em laboratórios de Silicon Valley, a Expo Favela deu um banho de realidade. E o melhor? Isso é só o começo. Rumor na saída é que a próxima edição já tem lista de espera de empreendedores - e dessa vez até gente de outros estados querendo participar.
No final do dia, o que ficou claro é que quando se dá oportunidade, o talento aparece - e como aparece. E Belo Horizonte, mais uma vez, mostrou porque é um celeiro de ideias que não para de surpreender.