
Imagine acordar um dia e descobrir que tudo pelo que você trabalhou desapareceu. Foi assim que começou a jornada de um empresário da Baixada Santista — sem aviso, sem rede de segurança, só com a roupa do corpo e um bebê nos braços.
A pandemia não fez cerimônia. Varreu negócios como um tsunami varre casas de praia. E ele? Perdeu o empreendimento, a renda, até o chão sob os pés. Mas o que parecia o fim era só o primeiro capítulo de uma história que ninguém — nem ele — esperava.
O dia em que o mundo desabou
Março de 2020. Você lembra onde estava quando o Brasil parou? Ele estava no escritório, olhando as contas e percebendo o óbvio: não ia fechar. "Foi como levar um soco no estômago", conta, com aquela voz que ainda treme ao lembrar.
Três meses depois, além de falido, virou pai solo. A mãe da criança precisou seguir outro caminho. Sobraram uma geladeira quase vazia e uma pergunta: e agora?
Do lixo ao luxo (ou quase)
O que você faria no lugar dele? Chorar no cantinho? Ele começou a catar latinhas. Sim, latinhas de refrigerante. "Tinha vergonha no início", admite. "Mas fome dói mais que orgulho."
Foi numa dessas tardes, empurrando carrinho de bebê com uma mão e catando recicláveis com a outra, que a luz acendeu. Notou quantos pais solo estavam na mesma situação. E se...?
- Semana 1: Vendeu o último relógio para comprar material
- Mês 3: Já tinha 20 clientes fixos
- Ano 2: Empresa formalizada, 5 funcionários
Não foi mágica. Foi suor, noites sem dormir e aquela teimosia que só quem já perdeu tudo conhece.
O negócio que nasceu da necessidade
Hoje, ele coordena uma cooperativa de serviços para pais solo. De encanador a professor de reforço, tudo num mesmo lugar. "A gente vira uma família", explica, enquanto arruma a cadeirinha do filho no carro — um usado, mas que é todo seu.
Os números? Impressionam:
- 127 famílias atendidas
- R$ 35 mil de faturamento mensal
- Prêmio de melhor microempreendedor da região
E o segredo? "Não tem fórmula", diz, rindo da própria frase clichê. "Só não desistir quando tudo diz pra desistir."
Enquanto isso, na sala ao lado, o pequeno — agora com 4 anos — rabisca um papel. Desenha o pai como super-herói. Sem saber que, de certa forma, acertou em cheio.