
Parece ironia do destino: enquanto Mato Grosso colhe números que fariam qualquer agricultor sorrir, os silos estão tão apertados quanto calça jeans depois do almoço de domingo. A safra 2024/25 promete bater todos os recordes – coisa de 78 milhões de toneladas, segundo os especialistas – mas aí vem aquele detalhe chato que ninguém quer ouvir: onde diabos vamos guardar tudo isso?
O paradoxo do celeiro transbordando
Os números são de dar água na boca: soja crescendo feito mato no cerrado, milho que nem parece de verdade de tão bonito, algodão que dá orgulho. Só que, como diria minha avó, "quem guarda tem". E no caso do MT, quem não tem armazém... perde dinheiro. Muita grana mesmo.
O déficit de armazenagem no estado beira os 30 milhões de toneladas – pra você ter ideia, é como se faltasse espaço para guardar a produção de três anos da Dinamarca. Enquanto isso, os produtores viram aquela novela:
- Grãos empilhados a céu aberto, sujeitos a chuva, pragas e prejuízos
- Caminhões fazendo fila quilométrica nos poucos armazéns disponíveis
- Frete disparando como foguete da NASA porque tudo precisa ser transportado logo
O xis da questão
O problema não é novo – quem acompanha o agronegócio sabe que essa música toca há anos. Mas agora, com a produção crescendo mais rápido que adolescente na puberdade, a situação ficou crítica. E olha que tem um agravante: os investimentos em infraestrutura não acompanham o ritmo dos tratores.
"É como tentar encher piscina olímpica com copinho de café", brinca um produtor de Sorriso (que, diga-se de passagem, não está nada sorridente com a situação). Entre uma risada amarela e outra, ele conta que já perdeu 15% da safra passada por falta de armazenagem adequada.
E agora, José?
Enquanto o governo fala em "estratégias" e "planos de longo prazo", os agricultores estão apelando para soluções criativas – algumas tão desesperadas que beiram o improviso:
- Aluguel de galpões industriais abandonados (com direito a reforma às pressas)
- Parcerias com cooperativas vizinhas (quando há espaço, claro)
- Até silos-bolsa, aqueles sacos gigantes, estão virando febre no interior
Mas vamos combinar: isso é enxugar gelo. O que realmente precisa – e urgente – são investimentos pesados em infraestrutura. Estradas melhores, ferrovias que funcionem, portos eficientes e, claro, mais armazéns. Muitos mais.
Enquanto isso não acontece, Mato Grosso segue nesse paradoxo: produz como gigante, mas armazena como anão. E no final, quem paga o pato é sempre o mesmo – o produtor, é claro.