Queda histórica nas exportações de café para os Estados Unidos
As importações de café brasileiro pelos Estados Unidos registraram uma queda alarmante de 51,5% no acumulado entre agosto e outubro, na comparação com o mesmo período de 2024. Os dados divulgados pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) nesta quarta-feira (12) revelam que os americanos compraram apenas 983.970 sacas de 60 kg após a implementação do chamado "tarifaço".
No mesmo trimestre do ano anterior, as vendas haviam superado a marca de dois milhões de sacas. A situação preocupa o setor cafeeiro nacional, tradicionalmente o mais competitivo do mercado internacional.
Impacto das tarifas de 50% no comércio bilateral
Márcio Ferreira, presidente do Cecafé, explica que a taxação de 50% imposta pelos Estados Unidos tornou inviável o envio do produto para aquele mercado. "O Brasil sempre foi o produtor mais competitivo e é o principal provedor ao mercado de café dos EUA, mas a taxação de 50% torna inviável o envio do produto para lá", afirma Ferreira.
O dirigente revela que os embarques recentes observados correspondem a contratos antigos firmados antes da implementação das tarifas. Há um temor real no setor de que, se as tarifas persistirem, poderá ocorrer uma mudança no paladar do consumidor norte-americano, dificultando a retomada do mercado pelo Brasil no futuro.
A preocupação se fundamenta no fato de que já existem misturas de cafés (blends) sendo produzidas nos Estados Unidos sem a utilização do grão brasileiro, o que pode alterar preferências de consumo de forma permanente.
Panorama geral e perspectivas de solução
Considerando o período de janeiro a outubro, a queda nas exportações para os EUA foi de 28,1% em comparação com 2024, totalizando 4,7 milhões de sacas. Apesar da retração significativa, os Estados Unidos mantêm a posição de principal importador do café brasileiro, responsável por 14,2% das vendas totais.
Há, entretanto, expectativas de mudança neste cenário. Segundo o Cecafé, representantes da indústria cafeeira norte-americana informaram que a Casa Branca avalia retirar as tarifas sobre o café brasileiro. A justificativa seria a necessidade do produto e o aumento dos preços internos nos Estados Unidos.
Na terça-feira, o presidente Donald Trump afirmou que vai reduzir "algumas tarifas" sobre as importações de café, sem especificar de quais países, conforme reportagem da agência Reuters. Atualmente, o café está enquadrado na seção 3 da ordem executiva assinada por Trump, que inclui recursos naturais não produzidos pelos EUA.
Para que as taxas sejam suspensas, é necessário um acordo bilateral entre os países. O objetivo do Cecafé é transferir o produto para a seção 2, que permite a importação com tarifa zero.
Problemas vão além das tarifas americanas
As exportações totais de café brasileiro, incluindo outros destinos além dos EUA, também apresentaram retração de 20% em outubro na comparação com o mesmo mês em 2024. Foram embarcadas 4 milhões de sacas contra 5 milhões no ano anterior.
O cenário paradoxal mostra que, apesar da queda em volume, a receita cresceu 12,6% no mesmo período, somando US$ 1,6 bilhão. No acumulado desde janeiro, a queda em volume foi de 20,3%, enquanto a receita cambial registrou crescimento expressivo de 27,6%, saltando de US$ 9,9 bilhões para US$ 12,7 bilhões.
Segundo Ferreira, além do tarifaço, outros fatores têm prejudicado as exportações: "O recuo das exportações era aguardado, principalmente por virmos de remessas recordes em 2024 e de uma safra com menor potencial produtivo. O cenário foi agravado, contudo, pela infraestrutura defasada nos portos brasileiros, que segue impossibilitando o embarque de centenas de milhares de sacas".
As vendas também foram impactadas pelas maiores cotações no mercado internacional, que embora tenham elevado a receita, reduziram o volume comercializado.
Outros importantes compradores do café brasileiro também ajustaram suas importações:
- Alemanha: redução de 35,4% entre janeiro e outubro
- Itália: queda de 19,7% no mesmo período
- Japão: crescimento de 18,5%
- Bélgica: declínio de 47,5%
O setor aguarda agora os desdobramentos das negociações bilaterais entre Brasil e Estados Unidos, que poderão redefinir o futuro das exportações do produto que é um dos carros-chefe da pauta exportadora nacional.