A tão aguardada assinatura do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, que estava prevista para este sábado (20), foi oficialmente adiada para janeiro de 2026. A confirmação partiu da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, após o encerramento da cúpula europeia em Bruxelas.
Protestos e necessidade de mais tempo
Em coletiva à impressa, von der Leyen explicou que "precisamos de mais algumas semanas para resolver alguns problemas com os Estados membros". Ela acrescentou que já houve contato com os parceiros do Mercosul e que ambos os lados concordaram com o adiamento por um breve período.
O clima em torno das negociações foi marcado por tensão. Na véspera do anúncio, agricultores e outros manifestantes realizaram um protesto vigoroso em Bruxelas, local da cúpula. Eles chegaram a acender uma grande fogueira, bloquearam vias com tratores e máquinas, o que exigiu a intervenção da polícia para controlar a situação. A manifestação era contra os termos do acordo entre os blocos.
Brasil já diversifica e aposta na Ásia
Enquanto as tratativas com a Europa enfrentam novos obstáculos, os números do comércio exterior brasileiro mostram uma rota alternativa que já está sendo percorrida com força: a Ásia, em especial a China.
Dados do Indicador de Comércio Exterior (Icomex), da Fundação Getulio Vargas (FGV), revelam uma mudança significativa. Entre agosto e novembro de 2025, o valor das exportações brasileiras para a China cresceu expressivos 28,6%. Em contrapartida, no mesmo período, as vendas para os Estados Unidos recuaram 25,1%.
A diferença se torna ainda mais nítida quando analisado o volume exportado: uma alta de 30% para o mercado chinês contra uma queda de 23,5% para o americano.
Soja impulsiona a virada comercial
Este movimento de realinhamento das exportações brasileiras ficou evidente logo após a entrada em vigor das tarifas adicionais impostas pelo governo de Donald Trump aos produtos brasileiros, a partir de agosto. Enquanto os embarques para os EUA registravam quedas sucessivas – com um tombo de 35,3% apenas em outubro –, os destinos à China dispararam, alcançando um crescimento de 42,8% em novembro.
Segundo análise da FGV, o impulso veio principalmente da soja. A China optou por substituir parte das compras que fazia dos produtores americanos pelo grão brasileiro, realocando suas importações em resposta às tensões comerciais.
Para os analistas de mercado, a mensagem é clara: mesmo com o adiamento do acordo com a União Europeia, o Brasil não ficou parado. O país demonstra capacidade de adaptação e está redobrando a aposta na parceria com a Ásia, que ganha cada vez mais peso na estratégia comercial nacional.