
Os números estão aí, e não dá para fingir que não os vemos. Um novo levantamento sobre saneamento básico no Brasil escancara o que muitos já desconfiavam: a desigualdade entre as regiões do país é mais profunda do que um buraco sem fundo. Enquanto o Sudeste parece viver no século XXI, o Norte e o Nordeste ainda patinam em questões básicas — como acesso à água tratada e coleta de esgoto.
O abismo que divide o Brasil
Parece até piada, mas não é. Enquanto em São Paulo 90% da população tem acesso a redes de esgoto, no Maranhão esse número despenca para míseros 14%. Quatorze por cento! É como se, em pleno 2024, parte do país ainda estivesse presa num passado que teima em não passar.
E olha que não estamos falando de luxo — água limpa e esgoto tratado deveriam ser direitos básicos, não privilégios de quem nasceu no lugar certo. Mas, pelo visto, o mapa do saneamento no Brasil ainda é um retrato cruel da nossa histórica desigualdade.
Quem lidera (e quem patina) no ranking
Sem surpresas, os estados do Sudeste dominam o topo da lista. Minas Gerais, São Paulo e Paraná aparecem como os mais bem avaliados — mas mesmo assim, ainda estão longe do ideal. Já no fim da fila, Maranhão, Piauí e Amapá apresentam números que dariam vergonha em qualquer país que se leve a sério.
- Água tratada: 94% no Sudeste vs. 57% no Norte
- Coleta de esgoto: 79% no Sul vs. 10% em alguns municípios nordestinos
- Tratamento de esgoto: a discrepância chega a ser de 300% entre regiões
E o pior? Essa desigualdade tem rosto — principalmente de crianças e idosos, os mais afetados pelas doenças causadas pela falta de saneamento.
O preço da omissão
Enquanto isso, o governo federal promete universalizar o saneamento até 2033. Nove anos parecem muito tempo quando você é uma das milhares de pessoas que ainda dependem de poços improvisados e rios poluídos para sobreviver. E adivinhe só? Os especialistas duvidam que a meta seja cumprida — o ritmo atual de investimentos está longe do necessário.
"É como tentar encher uma piscina olímpica com um conta-gotas", brinca — sem graça nenhuma — um especialista em infraestrutura que preferiu não se identificar. Ele tem razão: os R$ 700 bilhões necessários para resolver o problema parecem um sonho distante num país que mal consegue manter as estradas em condições mínimas.
E agora?
A verdade é que sem uma mudança radical na forma como tratamos o saneamento básico, continuaremos a ver cenas medievais em pleno século XXI. Enquanto uns discutem fibra óptica e 5G, outros ainda lutam por um banheiro decente. Essa é a realidade do Brasil — plural, desigual e, em muitos aspectos, simplesmente inaceitável.
O relatório deixa claro: ou investimos pesado agora, ou continuaremos a pagar um preço altíssimo — em vidas perdidas, em saúde pública deteriorada e em desenvolvimento econômico travado. A escolha é nossa, mas o tempo? Esse está correndo contra nós.