Demolições em Guarantã: Justiça determina queda de casas em lotes irregulares
Casas em lotes irregulares são demolidas em Guarantã

Era uma manhã como qualquer outra em Guarantã — até que as máquinas chegaram. Barulho de metal contra concreto, vozes abafadas, e aquele silêncio pesado que só quem já viu uma casa desmoronar conhece. A Justiça decidiu: dezenas de imóveis construídos em terrenos irregulares começaram a ser derrubados nesta quarta (31).

Não foi do dia pra noite, claro. O processo judicial arrastou-se por meses — ou será que foram anos? — enquanto os moradores insistiam em documentos, recursos, esperanças. Mas a sentença, como um martelo, caiu sem piedade. "A gente sabia que tava errado, mas e o dinheiro que botamos aqui?", desabafa um senhor que prefere não se identificar.

O que deu errado?

Parece simples no papel: áreas de preservação não são lugar pra construir casa. Só que na vida real, quando o terreno custa metade do preço e você mal tem onde cair morto, a conta fica diferente. Os lotes foram vendidos como "oportunidade", mas sem a devida regularização — e agora o preço se paga em tijolos e memórias.

O juiz foi categórico: "Não há como regularizar o irregular". E aí vieram as escavadeiras. Algumas famílias já tinham saído antes, outras resistiram até o último minuto. "Tô aqui desde que era mato", diz Dona Maria, 67 anos, enquanto observa as paredes de sua cozinha virarem pó.

E agora?

A prefeitura fala em "auxílio" — aquele tipo de palavra que parece promessa mas não enche barriga. Alguns moradores receberam notificação com meses de antecedência; outros juram que só souberam quando a máquina já estava na porta. "Cadê o direito à moradia?", questiona uma assistente social que acompanha o caso.

Enquanto isso, o debate esquenta: de quem é a culpa? Dos que venderam os terrenos sabendo da irregularidade? Dos que compraram por necessidade ou desconhecimento? Ou do poder público, que demorou anos pra agir? O certo é que, quando o pó baixar, só vai sobrar terreno vazio e muitas perguntas sem resposta.