
Era uma tarde cinzenta quando o samba brasileiro perdeu parte de sua alma. Arlindo Cruz — ah, esse nome que ecoa em rodas de partido alto e nos corações de quem ama música de verdade — partiu aos 66 anos. Não foi um adeus, porque arte desse calibre nunca morre.
Quem nunca se emocionou com "Obrigado, Meu Deus" ou balançou o corpo todo ao som de "Meu Lugar"? O cara tinha um dom raro: transformava dor em poesia, alegria em melodia. Nascido no subúrbio carioca, levou o cheiro de feijoada e o suor das rodas de samba para o mundo inteiro.
Um legado que não cabe em palavras
Foram mais de 40 anos de carreira — mas parece que foi ontem que ele surgiu na Velha Guarda da Portela. De repente, virou sinônimo de samba autêntico. Compôs pra todos os grandes: Zeca Pagodinho, Fundo de Quintal, Alcione... E cada música era um pedaço dele.
"Ele não fazia música, ele vivia música", contou um amigo próximo, a voz embargada. Nas últimas semanas, o estado de saúde do artista vinha preocupando — mas ninguém queria acreditar nesse desfecho.
O adeus do samba
O velório? Uma mistura de lágrimas e cantoria. Como ele gostaria. No Rio, terra que amou tanto, artistas e fãs se revezaram entre versos de suas músicas e histórias que nunca foram contadas. "Até nos momentos mais difíceis, ele tirava um samba do bolso", lembrou um parceiro de longa data.
Deixa saudade? Deixa. Mas também deixa um presente: mais de 300 composições registradas, prontas para serem redescobertas por novas gerações. Porque samba bom — desses de raiz, feito com suor e alma — não tem prazo de validade.
Enquanto houver alguém para cantar "Show de Bola" no churrasco de domingo ou sussurrar "Glória" num momento de gratidão, Arlindo estará vivo. E o samba brasileiro? Esse ficou órfão, mas herdou um tesouro.