
O samba perdeu um de seus maiores expoentes, mas ganhou uma eterna sinfonia de memórias. Arlindo Cruz, cujo nome ecoa como um refrão inesquecível, foi lembrado com lágrimas, sorrisos e muito pandeiro. Familiares, amigos e fãs se reuniram num clima que misturava saudade e celebração — porque, convenhamos, como não rir ao lembrar daquela piada que ele contava nos bastidores?
"Ele não era só um artista, era um ímã de alegria", disse um amigo próximo, enquanto ajustava o chapéu — detalhe que Arlindo adoraria. O violão que ficou sem dono, os versos que agora são recitados como mantras, e aquela voz que teimava em desafinar só para provocar gargalhadas. Tudo virou história.
O Homem Por Trás do Samba
Quem o conhecia de perto garante: Arlindo tinha o dom raro de transformar até uma fila de banco em roda de samba. "Se faltasse luz, ele batucava na mesa. Se sobrasse silêncio, preenchia com histórias", contou a irmã, entre uma xícara de café e outra. E não era só no palco que ele brilhava — nos almoços de domingo, era o primeiro a puxar o coro e o último a deixar o pandeiro descansar.
Ah, e como esquecer suas manias? O jeito particular de afinar o cavaquinho (ou "desafinar", segundo os puristas), a obsessão por canetas coloridas para compor, e o hábito de sempre chegar cedo — menos quando era para sair de cena. "Artista tem que deixar o público com gostinho de 'quero mais'", dizia, com um sorriso que já antecipava o bis.
O Legado Que Não Cessa
Nas redes sociais, fãs compartilham vídeos caseiros — aqueles em que a qualidade do áudio é duvidosa, mas a emoção, cristalina. De repente, todo mundo se tornou especialista em contar "aquele dia em que Arlindo...". E olha que histórias não faltam: desde a vez que improvisou um samba sobre o trânsito do Rio até quando ensinou o neto a bater palmas no ritmo certo (ou quase).
Num canto discreto da homenagem, seu primeiro pandeiro repousava em uma vitrine — arranhado, sem verniz, e mais valioso que troféu. "Ele dizia que instrumento novo não tem alma", riu um dos músicos da velha guarda. E quem discordaria? Afinal, samba se aprende é vivendo, e Arlindo viveu como poucos.
Enquanto isso, nas ruas do Estácio, o som dos tamborins parece mais alto hoje. Não é impressão: é memória virando ritmo, saudade virando verso. E se tem algo que todos concordam, é que o "Cruz" no nome dele nunca foi tão apropriado — porque Arlindo continua unindo pessoas, mesmo depois da última nota.