
O Rio de Janeiro parou nesta sexta-feira para dizer adeus a um dos maiores nomes do samba. Arlindo Cruz, o poeta da batida e das letras que embalaram gerações, recebeu uma despedida digna de seu legado — cheia de emoção, música e, claro, muito samba no pé.
O velório, que rolou na quadra da escola de samba Império Serrano (onde o artista era praticamente um filho), virou um palco improvisado. De repente, o que era pra ser um momento de tristeza se transformou numa celebração — porque, convenhamos, Arlindo não era do tipo que gostaria de silêncio. "Ele ia querer é pandeiro e violão tocando até o amanhecer", comentou um dos amigos mais próximos, entre um gole de cerveja e olhos marejados.
Fãs, Família e Muito Samba
Desde cedo, a fila já dava voltas no quarteirão. Tinha de tudo: senhoras de cabelos brancos que dançaram suas músicas nos bailes da vida, jovens que descobriram o samba através dele, e até crianças — porque, afinal, música boa não tem idade. "Minha avó me ensinou 'Obrigado' antes mesmo do alfabeto", contou uma moça de 22 anos, segurando um pandeiro como se fosse um tesouro.
Dentro, o clima era de... como explicar? Tristeza, sim, mas daquelas que vem com sorrisos nos cantos da boca. Teve choro, claro, mas também teve risada ao lembrar das histórias — e olha que eram muitas. "Lembra quando ele esqueceu a letra no meio do show e inventou um verso na hora? Só o Arlindo mesmo!", gritou alguém no meio da multidão, provocando gargalhadas.
O Legado Que Fica
Entre um samba-enredo e outro (porque não dava pra ficar parado), os familiares recebiam abraços como se fossem presentes. "Ele não era só meu pai, era pai de todo mundo que ama samba", disse um dos filhos, com a voz embargada mas firme. E não é que tinha razão? O palco principal pode ter se apagado, mas as batidas continuam ecoando — nas ruas, nos bares, e principalmente nos corações.
Quando o cortejo saiu rumo ao cemitério, parece que até o céu do Rio entrou no clima: um sol laranja, daqueles que só existem em letras de samba, iluminou a comitiva. E assim foi — entre cantorias, palmas e a certeza de que algumas vozes nunca se calam, mesmo quando partem.