
Não foi um simples adeus. Foi um turbilhão de emoções, batidas de pandeiro e vozes que ecoaram na noite do subúrbio carioca. A quadra do Império Serrano, aquela que já viu tantas histórias, dessa vez abraçou uma despedida que misturou alegria e lágrimas — porque samba, quando é de coração, não sabe separar as duas coisas.
Arlindo Cruz, esse gigante do partido-alto que nos ensinou a amar o ritmo com a alma, foi celebrado numa noite que parecia ter saído de um dos seus próprios sambas-enredo. A galera chegou cedo, sabe como é? Quem é de samba não marca hora, chega quando o coração pede. E o coração da Madureira tava pulsando forte naquela quinta-feira.
O chão tremeu, literalmente
Quando a bateria do Império começou a esquentar os tamborins, até o asfalto pareceu vibrar. Velhos compositores com camisas desbotadas de ensaios passados, jovens com celulares na mão tentando capturar um pedaço da história — todos unidos pelo mesmo compasso. Teve gente que jurou ter visto Arlindo sorrindo no cantinho do palco, de chapéu bambo e pandeiro na mão.
E as homenagens? Meu amigo... Desde Martinho da Vila até novos intérpretes que Arlindo ajudou a criar, cada um trouxe seu tempero. Dava pra ver nos olhos dos mais antigos aquela luz — a mesma que acende quando o samba é legítimo, sem firula, direto da raiz.
"Ele não foi embora, só adiantou o passo"
Foi o que gritou um senhor de cabelos brancos, abraçado num surdo maior que ele. E a galera entendeu na hora. Porque no samba, como na vida, os grandes nunca vão embora de verdade. Ficam nos versos que a gente repete, nas batidas que o corpo não esquece, naquele refrão que surge do nada num boteco qualquer.
Quando a noite já estava no fim — ou melhor, quando o dia já estava começando —, o último samba ecoou pelas ruas do bairro. Quem passava de carro reduzia a velocidade, alguns até paravam. Não era trânsito, era respeito. Porque quando o Império Serrano chora um filho, toda a cidade do samba para pra escutar.