FLUP reúne Conceição Evaristo e Leci Brandão em debate imperdível sobre ancestralidade no Rio
FLUP: Evaristo e Leci Brandão falam sobre ancestralidade

Não é todo dia que a gente vê duas lendas vivas da cultura brasileira dividindo o mesmo palco, mas a FLUP — aquela sacada genial que transformou as periferias em epicentro literário — conseguiu o feito. Nesta quarta (30), o festival trouxe juntas a escritora mineira Conceição Evaristo e a cantora paulista Leci Brandão para uma conversa que misturou poesia, samba e muita sabedoria ancestral.

O clima? Nem preciso dizer — era daqueles que arrepia até os fios de cabelo. A plateia, completamente hipnotizada, ouvia histórias que atravessam gerações enquanto as duas artistas desfiavam memórias como contas de um colar invisível. "A gente carrega nos ossos o cheiro da terra que não pisamos", soltou Evaristo numa daquelas frases que doem e acalentam ao mesmo tempo.

Samba, literatura e resistência

Leci, com aquela irreverência que só ela tem, contou como transformou dor em verso e preconceito em melodia. "Minha caneta é minha arma", brincou a compositora, lembrando dos tempos em que o samba era visto como "coisa de malandro" — hoje, todo mundo sabe que é patrimônio cultural. A escritora completou: "Literatura negra não é moda, é sobrevivência".

O papo rolou solto entre:

  • Relatos pessoais que pareciam saídos de romances
  • Canções que viraram hinos sem precisar de rádio
  • E aquela cumplicidade que só quem viveu na pele o racismo entende

Detalhe curioso: várias vezes, a plateia acabou cantando junto trechos de música que nem estavam no roteiro. Coisa de quem tem a arte no sangue, sabe?

Por que esse encontro marca?

Num país que ainda trata cultura negra como apêndice — pasmem! —, ver duas referências absolutas sendo celebradas é revolução pura. A FLUP, sempre antenada, captou o zeitgeist perfeito: enquanto o mercado editorial descobre (tarde) autores negros, o festival já fazia isso há 13 anos.

"Isso aqui é aula viva de história", comentou uma espectadora, emocionada. E era mesmo — sem PowerPoint, sem datas decoradas, só vivência na veia. No final, todo mundo saiu com aquela sensação rara: de ter participado de algo maior que um evento cultural.