Capoeira em Ceilândia: Roda de tradição e resistência cultural vibra no DF
Capoeira celebra cultura afro-brasileira em Ceilândia

Não foi só o sol que esquentou o asfalto de Ceilândia neste fim de semana. O bairro — que já nasceu pulsando cultura popular — recebeu uma explosão de berimbaus, pandeiros e palmas sincopadas num evento que transformou o concreto em terreiro de capoeira. E olha que não foi qualquer apresentação: ali, cada movimento contava histórias mais antigas que o próprio Plano Piloto.

Quem passou pela Praça do Cidadão viu de perto o que acontece quando a ginga vira linguagem. Mestres de gerações diferentes, alguns com as costas arqueadas pelo tempo mas os pés ainda leves como pena, mostraram por que a roda de capoeira é patrimônio imaterial da humanidade desde 2014. "Isso aqui é matemática corporal", brincou um dos participantes, suando a camisa após uma sequência de meia-lua de compasso.

Mais que esporte, resistência

Entre uma troca de golpes (que nunca são só golpes, mas diálogos), os organizadores lembravam: a capoeira nasceu como estratégia de sobrevivência. "Os escravizados treinavam luta disfarçada de dança", explicou a mestra Joana Santos, enquanto ajustava seu abadá. Hoje, séculos depois, o mesmo movimento que desafiava senhores de engenho agora conquista espaços urbanos — e corações.

As crianças, claro, foram as que mais se entregaram. Algumas nunca tinham segurado um berimbau, mas em poucos minutos já marcavam o ritmo com a naturalidade de quem traz o samba no pé desde o berço. "É tipo videogame, só que de verdade!", gritou um garoto de moicano, tentando imitar o aú (estrela) do colega mais velho.

Programação para todos os gostos

  • Oficinas de percussão: onde os tambores falavam mais alto que os celulares
  • Roda aberta: veteranos e iniciantes dividindo o mesmo chão
  • Contação de histórias: lendas da capoeira que os livros não contam
  • Feira de artesanato: cordões coloridos e instrumentos feitos à mão

O evento — que misturou suor, poeira e alegria em doses iguais — provou mais uma vez: em Ceilândia, a cultura não espera convite. Ela chega batendo pé no chão, chamando todo mundo pra roda. E pelo visto, a galera atendeu. Até o final da tarde, o som dos atabaques ainda ecoava nas ruas, como se a cidade inteira tivesse virado um grande quilombo contemporâneo.