
Não é de hoje que o assunto esquenta — e dessa vez foi Vanessa da Mata quem botou lenha na fogueira. A cantora, conhecida por hits como "Ai, Ai, Ai" e "Amado", soltou o verbo em entrevista sobre um mal que corrói a cena artística do país: a desvalorização crônica dos talentos nacionais.
"É como se jogassem nosso trabalho no lixo", disparou, com aquela mistura de indignação e cansaço que só quem vive o problema conhece. E olha que ela não tá falando de coisa pequena não. Segundo a artista, enquanto astros internacionais são tratados como deuses por aqui, os nossos mal conseguem espaço pra respirar.
O jogo está viciado
Pra Vanessa, o buraco é mais embaixo. Não se trata só de gosto musical — a estrutura toda favorece esse apartheid cultural. Festivais? Lotados de gringos. Rádios? Quase nenhuma música em português. E o pior: quando um brasileiro faz sucesso lá fora, só aí viramos fãs.
- "Tem artista que só é valorizado depois que os europeus aprovam" — e aí a gente se pergunta: por que precisamos desse aval estrangeiro?
- Nos últimos 5 anos, apenas 12% das músicas mais tocadas no Brasil eram de artistas nacionais (e olhe lá!)
- Festivais internacionais pagam até 10 vezes mais que os brasileiros pelo mesmo artista
Mas calma, que o problema não para por aí. Vanessa aponta outro fenômeno bizarro: a "elitização" da cultura. "Só é cool gostar de MPB se for em festival gourmet com taça de vinho a R$ 80", ironiza. E de fato — quando foi a última vez que você ouviu um samba no boteco?
E o público? Também tem culpa no cartório?
Aqui a coisa fica espinhosa. A artista não poupa ninguém: "A gente reclama, mas depois não compra ingresso, não vai ao show local, não compra o disco". É aquela velha história — queremos cultura, mas só se for de graça ou quase.
E tem mais: "As pessoas acham normal pagar R$ 500 num show internacional, mas reclamam de pagar R$ 50 num artista brasileiro". Difícil discordar, não? Parece que temos um complexo de vira-lata cultural enraizado na alma.
Mas nem tudo está perdido. Vanessa vê luz no fim do túnel: "Quando a gente valoriza o que é nosso, o mundo todo presta atenção". E cita exemplos como o funk e o sertanejo, que conquistaram espaço a duras penas. Será que estamos aprendendo a lição — ou ainda vamos continuar tratando nossos artistas como parentes pobres da cultura global?