Gilberto Gil abre o coração sobre a perda da filha Preta: 'Um vazio que nunca se preenche'
Gilberto Gil sobre luto pela filha Preta: "Aprendendo a carregar"

Não é todo dia que um artista do calibre de Gilberto Gil se abre dessa maneira. A voz embargada, os olhos úmidos — ele não esconde a dor. "A gente acha que está preparado, mas nunca está", confessa, numa frase que qualquer um que já perdeu alguém entende na pele.

Num estúdio cheio de histórias (e de silêncios pesados), o baiano de 81 anos revelou trechos nunca antes ouvidos sobre sua relação com Preta, a filha que partiu cedo demais. "Ela tinha uma luz própria, sabe? Daquelas que iluminam o canto mais escuro da sala."

Os últimos momentos

Quem espera discurso ensaiado vai se surpreender. Gil fala aos tropeços, como quem desbrava terreno desconhecido. "A gente conversou sobre tudo, menos sobre despedidas. Talvez fosse melhor assim."

Detalhes íntimos surgem entre pausas:

  • A última risada compartilhada — "aquela gargalhada que ecoava pela casa inteira"
  • O cheiro do perfume favorito de Preta, que ele ainda guarda num frasco
  • As músicas inacabadas que agora nunca serão terminadas

"Era minha parceira em tudo. Até nas brigas", diz, com um sorriso que não chega aos olhos.

O luto como processo criativo

Para quem pensa que a arte cura, Gil dá uma resposta que corta como faca: "Às vezes a arte só mostra o tamanho do buraco". Mas admite — entre um gole de café frio — que compôs versos nos últimos meses que "nem sabia que existiam dentro de mim".

O paradoxo? Justamente quando a música pareceu perder o sentido, ela se tornou a única linguagem possível. "Tem dias que canto no chuveiro até a água esfriar. Outros que não abro a boca pra nada."

E o público? "As pessoas querem consolar, mas às vezes o melhor abraço é o que não aperta." Frase típica de quem conhece os dois lados da fama.

O legado de Preta

Longe dos holofotes, Gil revela projetos que mantêm viva a memória da filha:

  1. Uma fundação para artistas independentes — "ela sempre puxou a orelha do sistema"
  2. Reedições especiais dos trabalhos menos conhecidos de Preta
  3. Um diário musical que os dois começaram e que ele prometeu terminar

"Não é sobre superar. É sobre aprender a carregar", define, numa metáfora que diz mais que mil discursos.

No final, resta a impressão de que estamos diante não do mito Gilberto Gil, mas do pai Gilberto — frágil, humano, e por isso mesmo mais grandioso que qualquer personagem público poderia ser.