
O ar pesa diferente quando a gente fala de despedidas. Gilberto Gil, esse gigante da MPB que já nos acostumamos a ver iluminando palcos, agora divide algo mais raro: a dor que não escolhe hora pra chegar. Em um daqueles papos que a gente sabe que vai doer mas é preciso ter, ele soltou o verbo sobre a última conversa com Preta Gil.
Não foi um "adeus" daqueles de novela, cheio de dramaticidade barata. Era um sábado como outro qualquer - ou quase. "A gente falou de tudo e de nada", confessa Gil, com aquela voz que já embalou gerações agora um pouco mais rouca de saudade. Coisas do cotidiano, planos futuros, até uma piada sem graça que só faz sentido entre pai e filha.
O que fica quando o corpo vai
Quem já perdeu alguém sabe: as últimas palavras ficam martelando na cabeça. No caso deles, foi um misto de prosa boba e silêncios que diziam mais que discursos. "Ela tava preocupada comigo, imagina só", ri o artista, num riso que não esconde a dor. A filha cuidando do pai até no fim - essa inversão que a vida às vezes prega.
O que mais choca? A normalidade do momento. Nada de luzes dramáticas ou músicas de fundo. Só dois seres humanos conectados pelo que há de mais primal: o amor que não precisa de tradução.
- O legado: "Ela me ensinou a viver com mais coragem", dispara Gil, num insight que veio depois
- A saudade: "Às vezes ouço uma música e penso: 'Preta ia adorar isso'"
- O luto: "Não é sobre superar, é sobre aprender a carregar"
E no meio da conversa, uma revelação que corta: Preta deixou projetos pela metade. Coisas que ela queria fazer, lugares pra visitar. "Agora eu vou terminando por ela", promete o pai, com aquela determinação de quem sabe que a melhor homenagem é seguir em frente - mas sem pressa de esquecer.
E a vida que continua...
Porque é isso, né? O show tem que continuar, mesmo quando a gente preferia ficar nos bastidores chorando. Gilberto Gil, aos 81 anos, mostra que dor e arte sempre andaram de mãos dadas na MPB. "Cantar ajuda", admite. "Mas tem dias que dói mais que outros."
No fim das contas, o que fica é a lição que nem todo mundo aprende: aproveitar os "tchaus" cotidianos como se fossem os últimos. Porque um dia, infelizmente, vão ser.