Não foi apenas nos palcos que Arlindo Cruz encontrou uma parceira de vida. Dona de uma força que desafia qualquer tempestade, sua esposa — cujo nome quase se confunde com a própria história do samba — esteve presente em cada batida do coração do artista, até o último suspiro.
Quem vê a leveza das letras de Arlindo talvez não imagine os desafios enfrentados nos bastidores. E ela? Ah, ela segurou as pontas como quem segura um pandeiro numa roda de samba: com firmeza, mas sem perder o ritmo.
Uma jornada além dos holofotes
Enquanto o Brasil cantava "O que é que a baiana tem?", ela tinha algo que poucos enxergavam: coragem. Muita coragem. Desde os primeiros sintomas até os dias mais difíceis, transformou-se em sombra e luz — sombra para proteger, luz para guiar.
Não foi fácil. Longe disso. Os médicos vinham e iam, os tratamentos mudavam, as esperanças oscilavam como o vai-e-vem de um surdo. Mas ela? Permaneceu. Firme. Como aquelas baianas que não deixam o tabuleiro cair, não importa o vento.
O adeus que não apaga a melodia
Quando a última nota se foi, não foram apenas os fãs que choraram. Nos corredores do hospital, entre equipamentos e lembranças, ficou a marca de um amor que nem a morte consegue silenciar completamente.
Ela sabia — todos sabiam — que o samba perderia parte de sua alma. Mas o que poucos entendem é que, antes de ser ícone, Arlindo era marido. E antes de ser lenda, era humano. Frágil como qualquer um de nós.
Hoje, quando "Meu Lugar" toca no rádio, talvez ela sorria entre lágrimas. Porque o lugar dele sempre foi ao seu lado. E isso, nem o tempo leva.
