Arlindo Cruz, ícone do samba, se despede aos 66 anos no Rio — uma perda irreparável para a música brasileira
Arlindo Cruz, ícone do samba, morre aos 66 anos no Rio

O Rio de Janeiro acordou mais silencioso hoje. Não por falta de carnaval ou de sol — mas porque perdeu uma de suas vozes mais autênticas. Arlindo Cruz, o poeta do samba que embalou gerações com letras que misturavam dor e alegria, partiu aos 66 anos. E olha que nem era um adeus que a gente esperava ouvir tão cedo.

Nascido e criado nos morros cariocas, Arlindo não apenas cantou o samba — ele respirava o ritmo, como quem sabe que a vida é um improviso entre notas e silêncios. Quem nunca se pegou cantarolando "O Bêbado e a Equilibrista" ou se emocionou com "Meu Lugar"? Pois é. Esses clássicos agora ganham um peso diferente.

Um legado que vai além dos palcos

Não foi só com microfone na mão que ele marcou época. Arlindo Cruz tinha aquela rara combinação de talento bruto e generosidade. Enquanto alguns artistas guardam segredos como tesouros, ele distribuía conhecimento como quem oferece um prato de feijoada — sem medida, sem egoísmo.

  • Compositor de mais de 300 músicas
  • Gravou 12 álbuns solo
  • Venceu 5 prêmios Grammy Latino
  • Formou dupla histórica com Sombrinha

E pensar que tudo começou com um pandeiro emprestado e sonhos grandes demais para um quintal de subúrbio...

"Samba é resistência" — e ele provou isso até o fim

Em 2011, um AVC tentou calar sua voz. Mas Arlindo? Nem pensar. Voltou aos palcos com aquela determinação que só os grandes têm — aquela que transforma obstáculos em compassos. Nos últimos anos, dividia seu tempo entre shows intimistas e projetos sociais. Porque samba, pra ele, nunca foi só entretenimento — era missão.

O velório acontecerá no Theatro Municipal do Rio, porque nada menos que um palco de ópera seria digno de seu adeus. Enquanto isso, nas rodas de samba da Lapa e da Pedra do Sal, os tamborins já tocam diferente. Mais devagar, como quem sente falta de um verso que não será mais completado.

Restam as letras. As melodias. E aquela saudade gostosa — daquelas que só a música verdadeira consegue deixar. Arlindo se foi, mas o samba (agora um pouco mais órfão) segue. Como ele mesmo diria: "É bamba quem sabe sorrir na dor".