
Parecia coisa certa, quase combinada nos bastidores do futebol mundial. O ano era 2023, e o nome de Carlo Ancelotti ecoava nos corredores da Confederação Brasileira de Futebol como a grande aposta para comandar a Canarinho. Mas eis que o destino, ou melhor, o coração do italiano, pregou uma peça.
Num trecho surpreendente da sua mais recente biografia, o Carletto – como é carinhosamente chamado – joga luz sobre aquele período de especulações que deixou todo mundo de orelha em pé. E a verdade, contada na sua própria voz, é um misto de gratidão, profissionalismo e um pé atrás com o timing.
O Telefone Toca, a Proposta Chega
Imagina só a cena: Ancelotti, já um dos técnicos mais vitoriosos da história, recebe um contato direto da cúpula da CBF. A oferta era tentadora, sem dúvida. Quem não ficaria balançado com a chance de comandar um gigante como o Brasil, um país que respira futebol? O próprio Carlo admite que a honra foi enorme, um verdadeiro calafrio.
Mas aí é que entra aquele ditado popular: não é só chegar e sair abraçando. O técnico tinha um compromisso inadiável, uma palavra empenhada. E essa palavra se chamava Real Madrid.
Lealdade Antes de Tudo
O que pesou na balança, e ele deixa claro no livro, foi um sentimento que vai além dos contratos: a lealdade. Ele simplesmente não se via abandonando o barco madridista no meio da temporada. Seria, nas suas próprias palavras, uma atitude "anti-profissional". Parece coisa de outro tempo, né? Um valor que, no mundo do futebol moderno, anda meio escasso.
Ele não só tinha um vínculo jurídico, mas um laço emocional forte com o clube, com a torcida e, principalmente, com o elenco que estava construindo algo especial. Deixar tudo isso para trás, de uma hora para outra, simplesmente não entrava na sua cabeça. Uma decisão que fala muito sobre o caráter do homem por trás do estrategista.
E Se o Convite Tivesse Vindo Antes?
Aqui a coisa fica ainda mais interessante. Ancelotti solta uma bomba ao sugerir que, talvez, se o timing fosse diferente, a história poderia ter outro capítulo. Ele deixa no ar que, se a proposta tivesse surgido no final da sua temporada no Madrid, quando o ciclo naturalmente se encerraria, a sua resposta poderia ter sido um sonoro "sim".
É aquela velha máxima do "quase" que sempre ronda as grandes decisões. O Brasil esteve perto, mas a janela de oportunidade se fechou por uma questão de calendário e honorabilidade. Uma reflexão que certamente vai alimentar os "e se..." dos fãs de futebol por um bom tempo.
No fim das contas, a revelação mostra que, por mais sedutora que seja a ideia de treinar uma seleção de peso, para um homem como Ancelotti, a honra e o compromisso com a sua palavra ainda são bens inegociáveis. Uma lição de profissionalismo que vai muito além das quatro linhas.