
O Rio de Janeiro parou hoje para se despedir de um de seus maiores ícones. Arlindo Cruz, o poeta do samba, teve seu corpo velado na quadra da Império Serrano, escola que carregou no peito como poucos. E que cena emocionante! A quadra, normalmente vibrante com ensaios e festas, hoje abrigava lágrimas e sorrisos ao mesmo tempo — uma mistura típica de quem celebra uma vida bem vivida.
Desde cedo, uma fila de gente comum, famosos e velhos bambas do samba se formou do lado de fora. Uns chegavam com flores, outros com instrumentos (afinal, como homenagear Arlindo sem música?). "Ele não era só um artista, era um pedaço da nossa história", disse uma senhora que preferiu não se identificar, mas cujos olhos vermelhos falavam mais que palavras.
O adeus do samba
Dentro da quadra, o clima era de reverência. O caixão, coberto com as cores verde e branco da Império, ficava cercado por fotos que contavam décadas de carreira — desde os tempos de fundação do Fundo de Quintal até os últimos shows, já com a voz mais rouca, mas a mesma paixão.
- Familiares recebiam abraços num canto, enquanto velhos parceiros de batucada rememoravam histórias
- Num momento inesperado, alguém começou a cantar "Canto da Natureza" e, em segundos, virou um coral espontâneo
- Até políticos apareceram, mas ficaram discretos — hoje era dia do povo mesmo
E o que dizer da presença da velha guarda da Império? Homens e mulheres de cabelos brancos, alguns com dificuldade para andar, mas que fizeram questão de estar lá. "Arlindo botou nossa escola no mapa do samba", contou Seu João, 82 anos, com orgulho na voz.
Legado que não morre
Enquanto isso, nas redes sociais, a comoção tomava proporções nacionais. De São Paulo a Salvador, fãs postavam vídeos cantando seus sucessos. Parece que todo mundo tem uma memória ligada a alguma música dele — seja num churrasco de domingo ou num amanhecer depois do carnaval.
O sepultamento está marcado para amanhã no Cemitério do Caju, mas uma coisa é certa: o samba perdeu um mestre, mas ganhou um anjo guardião. Como diria o próprio Arlindo em uma de suas letras: "A vida não para, a roda não para, o samba não para..." E com ele, certamente não parará.