
O Rio de Janeiro parou nesta manhã para dizer seu último adeus a um dos maiores nomes do samba. Arlindo Cruz, que partiu aos 66 anos após uma batalha contra problemas de saúde, foi enterrado no Cemitério São João Batista, em Botafogo, sob uma mistura de lágrimas e aplausos.
Não era um dia qualquer. O céu cinzento parecia combinar com o clima pesado que pairava sobre os presentes — familiares, amigos de longa data e fãs que cresceram ouvindo seus sucessos. Alguns chegavam com pandeiros, outros com fotos amareladas de shows inesquecíveis. "Ele não era só um artista, era parte da nossa história", comentou uma senhora, segurando um disco de vinil como se fosse um tesouro.
Um cortejo musical
Diferente do silêncio habitual dos velórios, o ar vibrava com os acordes de "Meu Lugar", entoados espontaneamente pela multidão. Até os seguranças do cemitério, normalmente impassíveis, balançavam os pés discretamente. O caixão, coberto por uma bandeira do Flamengo (seu time do coração), parecia leve nas mãos dos amigos — talvez porque o peso da saudade já fosse suficiente.
Entre os presentes, nomes como Zeca Pagodinho e Almir Guineto apareceram de surpresa, evitando holofotes. "Arlindo odiava falsidade. Hoje é dia de verdade, não de pose pra foto", murmurou um produtor musical conhecido, enquanto ajustava o chapéu que escondia olhos vermelhos.
O legado que fica
Fora dos portões, vendedores ambulantes — aqueles que normalmente oferecem água e salgadinhos — distribuíam cópias piratas de seus maiores hits. Ninguém reclamava. Afinal, qual seria o problema em compartilhar um pouco daquela voz que marcou gerações?
No final, quando a terra já cobria o caixão, alguém soltou o primeiro acorde de "Oshow" no violão. Em segundos, o que começou como uma despedida virou celebração. Exatamente como ele teria querido: com samba no pé e alegria, mesmo na dor.