
Não foi um adeus comum. Quando o corpo do sambista Arlindo Cruz chegou ao velório, algo extraordinário aconteceu — uma tradição ancestral, quase esquecida, ressurgiu com força total. O Gurufim, ritual afro-brasileiro que poucos conhecem, transformou a despedida em celebração.
Imagine a cena: amigos de infância, colegas de carreira e fãs apaixonados formando um círculo ao redor do caixão. As palmas começaram devagar, quase tímidas, mas logo ganharam intensidade. Era como se o próprio ritmo do samba batesse no peito de todos presentes.
Mas afinal, o que é o Gurufim?
Pra quem não tá por dentro das tradições mais raiz, o Gurufim é mais que um ritual — é uma declaração de amor à vida. Originário das comunidades afro-brasileiras, ele mistura elementos religiosos com a pura alegria do samba. "É como se a gente dissesse pro Arlindo: 'Vai em paz, mas leva nossa alegria contigo'", explicou um dos participantes, com os olhos cheios de lágrimas — e de orgulho.
O detalhe que pouca gente sabe? O ritual tem três partes bem definidas:
- A chamada: Os mais antigos iniciam com cantigas em dialetos africanos
- O transe: O ritmo acelera e o corpo começa a se mover quase sem controle
- A celebração: Quando o samba toma conta e vira festa mesmo
E no caso do Arlindo, teve um ingrediente extra — várias gerações de sambistas, desde os veteranos até moleques que mal começaram na batucada, se juntaram num só coro. "Ele sempre foi ponte entre as eras", lembrou uma vizinha da Velha Guarda da Portela.
Por que esse ritual é tão especial?
Num mundo cada vez mais pasteurizado, ver tradições assim resistindo é de cortar o coração — no bom sentido. O Gurufim não aparece em manuais de etiqueta funerária, não tem tutorial no YouTube. Aprende-se vivendo, no convívio, no "fazer junto" que define a cultura popular brasileira.
E no fundo, quem estava lá sentiu: não era só sobre despedir. Era sobre manter viva a chama que Arlindo Cruz ajudou a acender. Como disse um velho sambista, com a voz embargada: "O samba não morre. Só muda de endereço".
Enquanto isso, nas redes sociais, o vídeo do ritual viralizou — muita gente descobrindo essa tradição pela primeira vez. E aí, você já conhecia o Gurufim? Se não, agora tem mais um motivo pra se apaixonar pela riqueza das nossas tradições culturais.