
Era pra ser mais um sábado qualquer na quadra do Império Serrano, mas o clima é outro. O ar pesado de saudade se mistura com o cheiro de flores frescas — crisântemos, principalmente. A escola de Madureira, que já viu tantos ensaios animados, agora se veste de luto.
"A gente não imaginava que ia ter que preparar a quadra pra isso tão cedo", comenta Seu Jorge, um dos diretores da agremiação, enquanto ajusta um painel de fotos. As imagens mostram Arlindo em diversos momentos: no meio da bateria, sorrindo com o manto da escola, abraçando velhos amigos de samba.
Os preparativos que não queríamos fazer
Desde as primeiras horas da manhã, um vai-e-vem de voluntários transforma o espaço. Alguns arrastam cadeiras — aquelas dobráveis, sabe? Outros estendem panos pretos sobre as mesas. Num canto, três mulheres discutem a melhor forma de dispor os arranjos florais.
- O corpo deve chegar por volta das 14h
- Expectativa de mais de 500 pessoas
- Segurança reforçada pela prefeitura
Não vai faltar música, claro. Mas não será o samba estridente de sempre. "Vamos tocar os clássicos que ele amava, naquele tom mais suave", explica o mestre de bateria, que preferiu não dar entrevistas longas — a voz embargada denunciava o que as palavras tentavam esconder.
Um pedaço da história do samba que se vai
Arlindo não era só mais um. Com seus 67 anos — completados há menos de um mês —, ele carregava nas costas décadas de contribuição ao Império Serrano. Foi diretor de harmonia nos anos 90, criou enredos marcantes e, nas palavras da presidente da escola, "tinha o dom de unir as pessoas quando as coisas apertavam".
O velório promete ser tão singular quanto o homenageado. Entre as 16h e as 20h, a quadra vai receber não só familiares e sambistas, mas qualquer um que queira se despedir. "Era o que ele teria querido", garante a sobrinha, enquanto seca os olhos com um lenço já meio molhado.
Lá pelas tantas, quando o sol começar a se por, vão soltar balões verdes e brancos — as cores do Império. "Parece clichê, mas ele adorava essas coisas", riem os amigos, entre um gole de café e outra lembrança que vale a pena contar.