Gaza em luto: morre aos 85 anos a lendária 'Pele da Palestina'
Morre aos 85 anos o 'Pelé da Palestina' em Gaza

Era uma daquelas figuras que transcendem o esporte. Mohammed Barakat — ou, como preferiam os torcedores, o "Pelé da Palestina" — partiu hoje, aos 85 anos, deixando um legado que mistura chuteiras e resiliência. A notícia, confirmada por familiares, abalou Gaza como um gol perdido nos acréscimos.

Nascido em 1940, o atacante virou lenda nos campos poeirentos dos anos 60. Dizem que driblava tanques com a mesma facilidade que zagueiros — metaforicamente, claro (ou não). "Ele não jogava futebol, ele dançava com a bola enquanto o mundo desabava ao redor", lembra Ahmed, um velho torcedor que viu seus gols históricos.

Mais que um jogador

Barakat virou símbolo. Quando a ocupação israelense fechava estádios, ele treinava crianças em quintais. Nos anos 80, organizou um campeonato clandestino entre campos de refugiados. "Futebol era nosso jeito de gritar sem fazer barulho", confessou numa rara entrevista em 2012.

Os números? Pouco importam. Mas para os curiosos: 427 gols não oficiais (em times sem liga reconhecida), 3 prisões por "atividades esportivas suspeitas" e 1 perna quebrada por um colete blindado — acidente durante uma partida interrompida por tiros.

O adeus

O velório acontecerá amanhã no estádio Al-Yarmouk, onde ele fez seu último gol em 1987. Sem cerimônias pomposas, como ele queria. A família pediu que, em vez de flores, levem bolas de futebol para doação. Ironia do destino: o herói morreu de infarto enquanto assistia a uma reprise do jogo Brasil x Itália de 1970.

Restam as histórias. Como a vez que parou um jogo para ajudar um soldado ferido, ou quando ensinou o filho de um general israelense a dar chapéu. Gaza perdeu hoje não um atleta, mas um pedaço de sua alma resistente — aquela que, mesmo sob bombas, nunca deixou de acreditar no jogo bonito.