
Numa manhã cinzenta de sábado, São Paulo para — mesmo que por um instante — para se despedir de um de seus filhos mais talentosos. Roberto Duailibi, o gênio por trás de campanhas publicitárias que marcaram gerações e autor de obras literárias que ecoam até hoje, teve seu corpo velado no tradicional cemitério do Morumbi.
Quem passava pelo local podia sentir aquela mistura de tristeza e gratidão no ar. Afinal, como dizia o próprio Duailibi em uma de suas crônicas, "a morte é só o último ato de uma peça bem encenada". E que peça ele encenou!
Um legado que vai além das páginas
Não era só um caixão coberto de flores brancas. Era um símbolo de uma era — aquele tipo de criatividade que faz você parar no meio da rua e pensar: "Caramba, como essa pessoa via o mundo de forma diferente!"
Entre os presentes, rostos conhecidos do mundo das artes e da publicidade se misturavam a fãs anônimos. Uma senhora de cabelos grisalhos, por exemplo, segurava um livro desgastado — primeira edição de "O Anjo da Ladeira", de 1998. "Ele me fez amar São Paulo", confessou, com os olhos úmidos.
Do comercial ao literário
Se você cresceu nos anos 80 ou 90, provavelmente cantou algum jingle criado por Duailibi no chuveiro. Mas o cara era muito mais que isso — transformava palavras em varinhas mágicas. Nos anos 2000, trocou as agências pelas livrarias, mas nunca perdeu aquela verve única.
- Mais de 15 prêmios nacionais e internacionais de publicidade
- 7 livros publicados, incluindo o aclamado "Crônicas do Cotidiano Absurdo"
- Mentor de dezenas de profissionais que hoje são referência no mercado
E pensar que tudo começou com um estagiário tímido na década de 70... A vida prega essas ironias.
"Ele odiaria todo esse formalismo"
Um dos melhores amigos do publicitário, que preferiu não se identificar, soltou uma risada no meio do velório: "O Roberto estaria rindo da gente agora, com toda essa pompa. Queria ser lembrado com histórias, não com discursos".
E foi assim que, aos poucos, o clima pesado deu lugar a lembranças calorosas — algumas até meio constrangedoras, do tipo que só verdadeiros amigos podem contar. A família, visivelmente emocionada, parecia encontrar algum conforto nisso.
O sepultamento acontecerá em caráter privado, mas o legado — ah, esse fica. Nas prateleiras, nas memórias afetivas, naqueles comerciais que ainda arrancam sorrisos nostálgicos. São Paulo perdeu um de seus grandes contadores de histórias, mas ganhou, para sempre, um pedaço da alma dele.