
Não é todo dia que a história dá um passo adiante, mas em Volta Redonda, ela decidiu dançar. A cidade acabou de reconhecer os povos de terreiro como patrimônio cultural imaterial — e olha, essa não é só mais uma lei. É um grito de resistência que ecoa desde os tempos dos navios negreiros.
Quem já pisou num terreiro sabe: o cheiro de ervas, o som dos atabaques, a energia que arrepia até os céticos. Agora, tudo isso está oficialmente protegido. A decisão veio depois de anos de luta — porque, vamos combinar, nada na cultura afro-brasileira veio fácil.
Por que isso importa?
Num país que adora empurrar suas raízes africanas para debaixo do tapete, Volta Redonda fez o contrário. A prefeitura — pasmem — ouviu lideranças religiosas antes de bater o martelo. Resultado? Um documento que:
- Protege terreiros contra discriminação (já era hora, né?)
- Cria políticas públicas para manter as tradições vivas
- Inclui a história dos terreiros no currículo escolar
"Isso aqui não é museu, é resistência diária", me disse uma mãe de santo que prefere não ter o nome publicado — o preconceito, infelizmente, ainda existe. Mas agora, pelo menos, ele está contra a lei.
E agora?
O próximo passo? Levar a sério o que está no papel. Tem terreiro precisando de reforma, jovem querendo aprender tambor mas sem grana pra oficina, vizinho que ainda torce o nariz. A lei é o começo, não o fim.
Enquanto isso, os terreiros seguem fazendo o que sempre fizeram: curando corpos e almas, mantendo viva uma sabedoria que atravessou oceanos. Só que agora, com um selo de "importante" dado por quem demorou pra reconhecer.
Ironias à parte, é pra comemorar. Afinal, como dizem nos terreiros: "quem vive de passado é museu. Nós? Estamos bem vivos, obrigada".