Aos 77 anos, morre Aura, a última guardiã de um povo indígena extinto no Maranhão
Morre Aura, última sobrevivente de povo indígena do MA

Era como se o tempo tivesse parado para ela, mas o mundo lá fora insistia em continuar girando. Aos 77 anos, Aura se foi - e com ela, levou consigo memórias que agora nunca mais serão contadas. Uma perda que dói na alma, sabe? Não é só uma pessoa, é uma biblioteca inteira de histórias que se apagou.

Segundo a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), aquela senhora de sorriso raro era considerada a última representante viva de um povo indígena específico do Maranhão. O nome desse povo? Bem, essa é justamente a tragédia - talvez nunca venhamos a saber com certeza, e essa dúvida pesa como uma lápide sem inscrição.

Uma vida entre dois mundos

Nos últimos anos, Aura vivia numa situação que misturava o tradicional com o contemporâneo de forma quase cruel. A Funai mantinha um ponto de vigilância próximo à sua residência, na Terra Indígena Arariboia, município de Amarante do Maranhão. Uma presença que ao mesmo tempo protegia e lembrava sua condição única - a de última testemunha de um mundo que já não existia.

O que se passava pela cabeça dela ao acordar cada manhã? Imagino que devia ser um turbilhão de sentimentos contraditórios. Por um lado, a solidão de ser a última. Por outro, o peso de carregar nas costas toda uma cultura.

O silêncio que fala mais alto

A causa da morte ainda não foi divulgada, mas isso quase parece secundário diante da magnitude do que se perdeu. Quando alguém como Aura parte, não levamos apenas um corpo - enterramos com ela palavras, cantos, tradições que resistiram a séculos, só para desaparecerem no nosso tempo.

E pensar que ainda há poucos anos, em 2022, ela foi localizada durante operação da Polícia Federal e da Funai. Na época, vivia completamente isolada. Que ironia: encontrada para logo em seguida ser perdida para sempre.

O que fica quando o último se vai?

O caso de Aura nos obriga a refletir sobre quantos outros povos estão à beira do mesmo abismo silencioso. O Maranhão, com sua riqueza cultural imensa, vê mais uma cor desaparecer de seu mosaico étnico.

Resta-nos a consciência pesada e a pergunta que não quer calar: será que fizemos o suficiente? A vigilância da Funai era um reconhecimento tácito da importância dela, mas será que não chegamos tarde demais?

Agora, o que nos sobra é a memória - ou melhor, a falta dela. E o vazio que Aura deixa é maior do que qualquer arquivo ou registro antropológico possa preencher. Algumas histórias, quando se perdem, são irrecuperáveis. E essa, infelizmente, parece ser uma delas.