
Quem passa pela região hoje nem imagina, mas ali, escondida entre plantações e fábricas, uma vila quase fantasma teima em não desaparecer. As paredes descascadas das casas contam histórias de um tempo que a modernidade quis apagar — e olha que ela quase conseguiu.
"Aqui já foi barulho, criança correndo, vizinho chamando pro café... Agora? Só o vento e uns três gatos pingados", diz Seu Antônio, 78 anos, um dos últimos moradores que ainda resistem. Ele lembra como a chegada das indústrias na região foi sugando a vida do lugar — primeiro os jovens, depois o comércio, até a escola fechar as portas.
O abandono que virou resistência
Nos anos 1980, era outra história. A vila fervilhava com mais de 200 famílias. Tinha mercearia, campo de futebol, até cinema improvisado aos domingos. Mas o progresso — essa faca de dois gumes — trouxe empregos a 20km dali e levou embora quase todo mundo.
O curioso? Quem ficou transformou o abandono em arte. As casas vazias viraram galerias a céu aberto, com murais que contam a saga do lugar. "A gente pinta nossa história pra não deixar morrer", explica Dona Marta, que organiza exposições com objetos achados nas casas abandonadas.
O futuro de um passado teimoso
Nos últimos dois anos, um movimento inesperado: artistas e turistas começaram a descobrir a vila. Alguns jovens até voltaram — não pra trabalhar nas fábricas, mas pra abrir ateliês e pousadas rurais. Ironicamente, o que quase matou o lugar agora alimenta seu renascimento.
"Não é museu, é vida real", defende Carlos, 32 anos, que deixou um emprego na capital para montar uma cafeteria na casa da avó. Ele faz questão de servir o café na velha mesa de madeira rachada — "pra sentir o peso da história", diz.
Enquanto isso, Seu Antônio observa tudo de sua cadeira na calçada, entre desconfiado e esperançoso. "Se durou até agora, não vai ser essa geração de internet que vai acabar com a gente", provoca, antes de dar uma risada que ecoa pelas ruas quase vazias.