Última Homenagem: Ex-goleiro é sepultado em MT em cortejo emocionante que reuniu torcedores e familiares
Ex-goleiro é sepultado em MT com cortejo emocionante

Era uma daquelas manhãs que parecia ter saído diretamente de um romance regional - pesada, silenciosa, com aquele sol que não aquece direito. E no meio dessa atmosfera quase surreal, uma cidade inteira parou para dizer adeus. Não era qualquer pessoa, claro. Era um daqueles sujeitos que vestiu a camisa do time local como se fosse uma segunda pele.

O ex-goleiro - cujo nome todo mundo conhecia mas poucos pronunciavam sem engasgar - seguiu seu último caminho pelas ruas que tantas vezes percorrera vivo. E que cena, meu Deus! Familiares abraçados como se o mundo fosse acabar, torcedores antigos com camisas surradas de tanto lavar, crianças que provavelmente só o conheciam das histórias dos avós.

O adeus que virou celebração

Dá pra chamar de cortejo? Talvez fosse mais que isso - uma espécie de procissão leiga onde o futebol fazia as vezes de religião. O caixão, coberto com a bandeira do time que ele tanto defendeu, seguia lento como quem não tem pressa de chegar. E a multidão acompanhava num silêncio que só era quebrado pelos soluços disfarçados.

Alguém - não sei quem - começou a cantar um antigo grito de guerra do time. Aos poucos, outros foram se juntando, até que o som encheu a rua principal. Era bonito de se ver, mas ao mesmo tempo dava uma angústia danada. Aquelas vozes, antes usadas para incentivar defesas impossíveis, agora serviam de trilha para uma despedida definitiva.

Memórias que permanecem

Conversando com um senhor de cabelos brancos na calçada, descobri que o ex-goleiro tinha uma característica peculiar: defendia pênaltis como se lesse o pensamento dos cobradores. "Nunca vi igual", disse o homem, com os olhos marejados. "E o mais impressionante: sempre com aquele sorriso no rosto, como se fosse brincadeira."

Essas histórias - e havia muitas - circulavam pelo cortejo como fantasmas bons. Lembranças de jogos under the rain, defesas milagrosas, vitórias improváveis. Coisas que, vamos combinar, valem mais que troféus enfileirados numa prateleira.

O cemitério ficava na saída da cidade, num lugar tranquilo demais para tanta comoção. Quando o caixão finalmente desceu, alguém jogou sobre ele uma camisa autografada. Outros atiraram flores. Uma mulher - talvez a esposa - permaneceu imóvel por longos minutos, como se esperasse que tudo não passasse de um mau sonho.

E assim se foi mais um pedaço da história footballística local. Não com estrondo de fogos ou manchetes nacionais, mas com o carinho simples de quem nunca esqueceu o menino que defendia bolas como se a vida dependesse disso.