Jude Law Interpreta Putin em Filme Ovacionado no Festival de Veneza | VEJA Gente
Jude Law como Putin ovacionado em Veneza

Eis que Veneza para. Não literalmente, é claro – os canais ainda estão cheios de gôndolas e o gelato ainda derrete rápido sob o sol italiano. Mas a sala de cinema… ah, essa sim parou. Na noite de estreia de 'The Order', o silêncio era tão denso que você poderia ouvir o tilintar de uma espórtula de prosecco do outro lado do hall.

E então, ele apareceu. Não Vladimir Putin, claro. Mas Jude Law transformado no homem mais enigmático e temido do planeta. E que transformação! O ator britânico, conhecido por seus papéis elegantes e por vezes até efeminados, surgiu com uma calvície impressionantemente convincente, uma postura rigidamente militar e aqueles olhos azuis – agora frios e calculistas – que pareciam perfurar a tela.

O que se seguiu foi uma atuação de tirar o fôlego. Law não imita Putin; ele encarna o espírito do líder russo, capturando não apenas a voz sussurrada e os maneirismos contidos, mas a aura de poder absoluto e paranoia silenciosa que o cerca. É assustadoramente bom. Tão bom que, quando as luzes se acenderam, o público – um mix de críticos cascudos, cineastas renomados e jornalistas céticos – explodiu em uma ovação de dez minutos. Dez minutos! Em Veneza, onde o aplauso é muitas vezes mais por educação do que por entusiasmo genuíno.

Não Apenas um Filme, uma Declaração

Dirigido pelo talentoso – e corajoso – Andréy Konchalovskiy, 'The Order' mergulha nos corredores sombrios do poder do Kremlin. Konchalovskiy, que conhece a Rússia como poucos, não oferece uma biografia simples. Ele tece um thriller político tenso, quase um claustrofóbico estudo de caráter sobre a solidão do comando supremo e as decisões que podem alterar o curso da história mundial.

É arriscado, sem dúvida. Interpretar uma figura tão contemporânea e divisiva é caminhar sobre um campo minado político e artístico. Um passo em falso e o projeto poderia ser visto como paródia ou propaganda. Mas a dupla Law-Konchalovskiy não tropeça. Eles corajosamente pintam um retrato complexo, cheio de nuances e contradições – um homem que é tanto estadista quanto tiranete, estrategista e vulnerável.

O festival, é claro, adorou. A ovação estrondosa não foi apenas para a qualidade cinematográfica, mas pelo pureza artística diante de um tema tão espinhoso. Num mundo onde a arte muitas vezes se curva ao politicamente correto, 'The Order' é um soco no estômago. Desconfortável? Sem dúvida. Necessário? Absolutamente.

O Zumbido Pós-exibição

Para fora do teatro, o burburinho era elétrico. Críticos já sussurravam sobre indicações ao Oscar para Law – sim, aquela estatueta dourada que sempre parece fugir dele. A performance é, sem exagero, a definição de 'award-worthy'.

Mas além dos prêmios, o filme acende um debate crucial: até que ponto a arte pode e deve explorar figuras políticas vivas? Onde termina a liberdade artística e começa a interferência? 'The Order' não oferece respostas fáceis, mas força a pergunta – e isso, talvez, seja sua maior vitória.

Uma coisa é certa: você sairá da sala de cinema não com respostas, mas com perguntas. E, provavelmente, com uma nova e profunda admiração pelo talento transformador de Jude Law. O homem simplesmente desapareceu, e só Putin ficou. Brrr.