
Numa daquelas noites que ficam gravadas na memória cultural do país, o Rio de Janeiro testemunhou um momento histórico. Miriam Leitão — sim, aquela mesma que desbravou os meandros da economia com uma caneta afiada e um olhar crítico — finalmente vestiu o fardão verde e dourado dos imortais.
Aconteceu nesta sexta-feira (9), sob os lustres centenários do Petit Trianon. A cadeira número 37, que já foi de ninguém menos que Getúlio Vargas, agora tem dona. E que dona!
Do teleprompter para a eternidade
Quem diria que a menina de Caratinga (MG), que começou no jornalismo quase por acaso nos anos 70, chegaria tão longe? Entre uma crise econômica e outra, Miriam construiu uma carreira que é aula de resistência — com direito a prisão durante a ditadura e tudo.
"Não sou escritora de ficção, mas hoje me sinto personagem de um conto fantástico", brincou ela, segurando o medalhão com aquele jeito despretensioso que só os grandes têm.
O discurso que emocionou
Em 20 minutos que voaram, Leitão misturou memórias pessoais com reflexões afiadas sobre o país. Teve homenagem ao marido (o também jornalista Sérgio Abranches), piada sobre a dificuldade de escrever discursos e até citação de Guimarães Rosa — porque sim, a moça sabe das coisas.
- Relembrou sua primeira reportagem sobre inflação (coisa de 1976)
- Fez mea-culpa por ter demorado a publicar seu primeiro livro
- Defendeu o jornalismo como "arte da verdade inconveniente"
E o melhor? Tudo isso com aquela voz morna que os brasileiros conhecem das manhãs de rádio e TV.
A festa (e os bastidores)
O coquetel depois da posse foi daqueles para ficar na história. Teve de tudo: desde acadêmicos veteranos contando causos até jovens escritores tirando selfies com a nova imortal. Dizem que o bolo — em formato de livro, claro — desapareceu em 15 minutos.
Nos corredores, o papo era um só: como a ABL ganhou fôlego novo com essa escolha. "Ela traz o jornalismo para a literatura, e a literatura para o jornalismo", resumiu um dos presentes, entre um gole de champanhe e outro.
Ah, e pra quem tá se perguntando: sim, o fardão ficou perfeito nela. Parecia até que tinha sido costurado sob medida — o que, convenhamos, provavelmente foi.