
Era terça-feira, 24 de setembro, quando o céu do Mato Grosso do Sul ficou um pouco mais pesado. Um acidente aéreo tirou a vida de uma das mentes mais brilhantes da arquitetura contemporânea: Yu Kongjian, o visionário por trás das chamadas 'Cidades Esponja'. O avião monomotor, um Cessna 210, simplesmente sumiu do radar—e com ele, um legado que estava apenas começando a florescer no Brasil.
Quem era esse homem que viajava pelo mundo pregando uma revolução silenciosa contra as enchentes urbanas? Nascido em Jinhua, na província chinesa de Zhejiang, Yu não era apenas mais um arquiteto. Era um poeta do concreto, um agricultor urbano que enxergava nas cidades não problemas, mas soluções waiting to happen. Formado pela Harvard University, ele liderava o escritório Turenscape, referência global em paisagismo ecológico.
O conceito que pode mudar tudo
Imagine uma cidade que bebe a água da chuva como uma esponja—literalmente. Essa era a ideia genial de Yu: em vez de canalizar a água para longe o mais rápido possível (o que sempre causou enchentes rio abaixo), por que não deixar que ela se infiltre naturalmente? Parques alagáveis, calçadas permeáveis, telhados verdes... Tudo pensado para que a água seja absorvida onde cai.
O mais irônico? Ele estava justamente em missão técnica no Brasil, assessorando projetos pilotos que poderiam transformar a relação das nossas cidades com a água. O avião caiu na região de Rio Brilhante, município a 260 km de Campo Grande. Uma busca árdua—envolvendo o Corpo de Bombeiros, a Polícia Militar Ambiental e até o Centro de Operações Aéreas—encontrou os destroços na quarta-feira. Não houve sobreviventes.
Um legado que sobrevive
Yu Kongjian deixa mais do que projetos—deixa uma filosofia. Suas 'Cidades Esponja' já são realidade em mais de 30 cidades chinesas, reduzindo em até 60% o escoamento superficial de água das chuvas. E o Brasil, com seus problemas crônicos de enchentes, era seu novo campo de batalha.
O que me faz pensar: quantas vidas poderiam ser salvas se suas ideias fossem implementadas por aqui? Quantos desastres como os que vemos todo verão poderiam ser evitados? A morte de Yu é trágica, mas sua visão—essa permanece viva, esperando por prefeitos corajosos o suficiente para abraçá-la.
Enquanto as investigações sobre as causas do acidente seguem seu curso, fica o vazio de uma mente que enxergava as cidades não como inimigas da natureza, mas como suas aliadas. Uma perda irreparável para o urbanismo—e para todos nós que sonhamos com cidades mais harmoniosas.