
Imagine acordar todos os dias ao som de centenas de cantos diferentes, cores vibrantes e movimentos graciosos. É assim a rotina de um catarinense que transformou sua paixão por aves em um verdadeiro estilo de vida — sua casa virou um refúgio para mais de 400 espécies exóticas, todas devidamente registradas e legalizadas.
Não é todo dia que você encontra alguém capaz de identificar a procedência de um tucano só pelo timbre do grasnado, mas ele faz isso antes mesmo de tomar o primeiro gole de café. "Comecei com um casal de calopsitas há 20 anos", conta, entre uma checagem nas gaiolas e outra no comedouro. "Agora preciso de uma planilha pra lembrar o aniversário de cada um."
Do quintal para o mundo
O que era hobby virou expertise. Entre araras com penas que parecem ter sido pintadas à mão e raríssimos psitacídeos de três continentes, o criador — que prefere não divulgar o endereço exato — mantém um rigoroso protocolo:
- Ambiente controlado com temperatura e umidade específicas
- Alimentação balanceada (frutas tropicais são importadas quando necessário)
- Monitoramento veterinário quinzenal
- Programa de reprodução supervisionado pelo IBAMA
"Já me chamaram de louco", ri, enquanto um papagaio-verdadeiro tenta roubar a atenção — e seu relógio. "Mas quando você vê um filhote de arara-canindé aprendendo a voar... não tem preço."
Legalidade em primeiro lugar
Diferente de muitos colecionadores, nosso protagonista insiste na papelada: "Cada ave tem microchip, anilha e documento. Até meu jabuti tem RG animal". A burocracia, segundo ele, é necessária para combater o tráfico — problema que conhece de perto, já tendo resgatado espécimes vítimas do comércio ilegal.
E o que dizem os vizinhos? "No começo estranhavam os gritos das araras às 6 da manhã. Agora trazem os netos pra visitar." A casa, que mais parece um pedaço da Mata Atlântica em pleno urbano, virou atração não-oficial da região.
Enquanto isso, no poleiro mais alto, um tucano-toco observa tudo com ar de quem sabe que é a estrela do local — e deixa claro, bicando qualquer um que ouse chamá-lo de "passarinho".