
A cena era de cortar o coração. Na capela lotada, o caixão coberto por uma bandeira do Brasil — um símbolo de luto e, ao mesmo tempo, de revolta. Cleiton*, gari de 38 anos, foi morto a tiros na última terça-feira (12) em um assalto que deu errado. E o velório, que deveria ser um momento de despedida, virou um protesto contra a violência que assola Belo Horizonte.
"Ele era um trabalhador, um pai de família. Não merecia isso", diz Maria*, esposa de Cleiton, com a voz embargada. Ao seu lado, as duas filhas do casal, de 8 e 12 anos, pareciam não entender direito por que o pai não voltaria mais para casa.
O crime que chocou a cidade
Tudo aconteceu rápido demais. Por volta das 22h, Cleiton voltava do trabalho quando foi abordado por dois homens em uma moto. Testemunhas contam que ele tentou reagir — talvez por instinto, talvez para proteger o pouco dinheiro que tinha no bolso. Os bandidos não hesitaram: dispararam contra o peito dele e fugiram sem levar nada.
"É a barbárie total", desabafa um colega de trabalho, que preferiu não se identificar. "A gente sai de casa pra ganhar o pão e não sabe se volta."
O clamor que ecoou nas redes
Enquanto isso, nas redes sociais, a hashtag #JustiçaParaCleiton começava a ganhar força. Vídeos do velório — com pessoas chorando, gritando por justiça — viralizaram. Até artistas locais se manifestaram. "Isso não pode ficar assim", escreveu um famoso cantor mineiro em suas redes.
E não ficou. Na quarta-feira (13), uma multidão se reuniu em frente à prefeitura. Carregavam cartazes com frases como "Basta de violência" e "Quem matou Cleiton não matou só um gari, matou um pedaço de todos nós".
O que dizem as autoridades?
A Polícia Civil garante que está investigando. Dois suspeitos já foram identificados pelas câmeras de segurança — um deles, curiosamente, tinha passagem por roubo de celulares. Mas ninguém foi preso ainda.
Já a prefeitura emitiu uma nota de pesar (daquelas bem burocráticas, sabe?) e prometeu "apoiar a família neste momento difícil". Nada sobre medidas concretas para proteger os trabalhadores urbanos.
Enquanto isso, no bairro onde Cleiton vivia, o clima é de medo e indignação. "A gente se sente abandonado", diz uma vizinha. "Precisamos de mais policiamento, de iluminação nas ruas... de dignidade, no fim das contas."